São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Cassinos 'enterram' elefantes do pop

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cidade é cemitério de elefantes do pop
Las Vegas é o cemitério de elefantes da cultura musical americana. Grandes "entertainers" conheceram, conhecem e vão conhecer o ocaso de suas carreiras nos palcos dos cassinos da cidade.
Como uma versão do museu britânico de Madame Tussaud —que abriga bonecos de cera retratando celebridades—, os palcos de Las Vegas apresentam shows com artistas que são ícones de seus próprios passados. E nesse ponto, o fim de carreira inglês é mais digno. Mais vale o brilho da cera que a resplandecência fosca dos palcos locais.
A programação de shows em janeiro e fevereiro deste ano parece uma carta celeste composta apenas por estrelas cadentes.
Senão vejamos. No hotel Alladin, o cantor Barry Manilow entoou "Ready To Take a Chance Again" pela milionésima vez. O Caesars Palace atacou com as vozes de Tony Bennett, Johnny Mathis e Burt Bacharach.
Cantor de "Thunderball" —tema do filme "007 Contra a Chantagem Atômica"—, Tom Jones se apresentou no hotel da MGM. Já no Bally's, a atração foi, acredite se quiser, o redivivo Paul Anka.
No deserto de atrações musicais interessantes, o hotel Sahara foi o que mais se aproximou de um oásis em Las Vegas nos dois primeiros meses deste ano. Pelo menos em termos de variedade.
Lá se apresentaram a "drag-queen" Ru Paul, James Brown, Kool & The Gang e Neil Sedaka com seu jurássico e inesquecível hit "Breaking Up Is Hard To Do".

Elvis e Sinatra
Não é de hoje que Las Vegas joga as últimas pás de terra sobre carreiras musicais. O exemplo mais famoso e dramático é o de Elvis Presley.
Só com muitas anfetaminas o cantor conseguia superar o trauma de ter trocado as adolescentes dos anos 50 com seus vestidinhos tubinho pelas madames com peles de visom dos anos 70.
Até hoje, muitos charlatões ficam milionários com teses mirabolantes sobre a possibilidade de Elvis estar vivo. Mas indubitavelmente Elvis morreu. Morreu quando se vestiu de astronauta kitsch. Morreu quando passou a entoar baladas cafonas. Morreu quando cantou em Las Vegas.
Mas a cidade não conseguiu engolir um talento: Frank Sinatra. "The Voice" enfrentou sozinho as areias movediças dos palcos de Las Vegas e emergiu com os dois discos da série "Duets", em que canta com ótimos, péssimos e regulares músicos. Antes mal-acompanhado em discos que só na capital do jogo.
(EF)

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