São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Carlos Salinas anuncia greve de fome

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ex-presidente do México Carlos Salinas de Gortari anunciou na noite de anteontem que estava entrando em greve de fome para defender sua honra.
Seu objetivo é obrigar o governo liderado por seu sucessor, Ernesto Zedillo, a assumir a responsabilidade pela crise financeira que o país atravessa e inocentá-lo de qualquer relação com um crime político ocorrido há um ano.
Ontem à tarde, porém, o ex-presidente afirmou que a greve de fome estava "suspensa por algumas horas" e deu a entender que o governo estaria disposto a resolver pelo diálogo a "injustiça" de que diz ser vítima.
Os porta-vozes da Presidência disseram que o governo não faria nenhum comentário sobre o gesto.
"Estou decidido a trocar o bem mais valioso que tenho para que se esclareçam esses dois temas. O mais valioso que tenho é minha vida, por isso estou disposto a dá-la em troca da verdade", afirmou Salinas à TV mexicana Azteca.
O ex-presidente estava ontem em uma casa que possui no bairro de San Barnabé, em Monterrey, Estado de Nuevo León (norte do país). Inicialmente havia sido anunciado que ele ficaria em sua fazenda em Aguasleguas, perto da fronteira norte-americana.
Na última terça-feira, o presidente Zedillo, que assumiu o poder em 1º de dezembro, atribuiu ao governo de seu antecessor os problemas financeiros que levaram à desvalorização maciça do peso, que abriu a crise atual.
Há duas semanas, o procurador-geral da República, Antonio Lozano, afirmou que o assassinato de Luis Donaldo Colosio, candidato governista à eleição presidencial de agosto do ano passado, foi fruto de uma conspiração política —e não um crime cometido por um assassino isolado, como havia concluído a investigação feita sob o governo Salinas.
Segundo a agência oficial "Notimex", mais um suspeito de envolvimento no assassinato de Colosio, ocorrido em 23 de março de 1994, foi preso nos últimos dias. Mario Alberto Carrillo teria sido denunciado por outro acusado pelo mesmo crime, Othon Cortez Vázquez, preso há uma semana.
As investigações conduzidas durante o governo Salinas haviam apontado um único responsável pelo crime, o mecânico Mario Aburto Martinez, que acabou condenado a 45 anos de prisão. Posteriormente foi preso também Fernando de la Sota, um dos seguranças de Colosio.
O ex-presidente declarou que sua greve de fome não tem nenhuma relação com a prisão, na última terça-feira, de seu irmão Raúl Salinas.
Raúl é acusado de ser um dos mandantes do outro assassinato político que abalou o México em 1994, o do secretário-geral do PRI (Partido Revolucionário Institucional), José Francisco Ruiz Massieu.
O crime ocorreu em 28 de setembro, um mês após a eleição de Zedillo. O ex-deputado Manuel Muñoz Rocha, do PRI, que até poucos dias atrás era considerado o único mandante, desapareceu após o assassinato.
A Procuradoria Geral anunciou ontem ter "evidências adicionais e contundentes" da participação de Raúl Salinas no assassinato de Ruiz Massieu. Segundo o órgão, não foi encontrado "até o momento" nenhum indício de envolvimento do ex-presidente Carlos Salinas.
O ex-subprocurador-geral Mario Ruiz Massieu, irmão do político assassinado, viajou ontem a Houston, Texas (EUA), junto com sua mulher e sua filha. Segundo um assessor, ele tirou "duas semanas de férias".
Anteontem, Mario Ruiz Massieu prestou depoimento durante seis horas à Procuradoria Geral. Ele negou as acusações de ter ocultado informações sobre o assassinato de seu irmão.
O presidente norte-americano, Bill Clinton, reafirmou o apoio de seu governo a Zedillo, que, segundo ele, "vai na direção adequada".
Falando a jornalistas em Washington, Clinton disse que "o apoio dos Estados Unidos à democracia na América Latina começa pelo México".

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