São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Além da especulação

Fevereiro foi o quarto mês consecutivo de déficit no setor externo. O fluxo negativo das operações financeiras superou o superávit nos contratos comerciais. Os dados de embarque e desembarque físico de mercadorias também deverão mostrar saldo negativo no mês passado.
Desde a crise mexicana, a possibilidade de financiar eventuais déficits externos com entrada de capitais reduziu-se drasticamente.
Torna-se claro, portanto, que o Brasil não poderá manter déficits como os verificados desde novembro. O câmbio valorizado e a manutenção do grau atual de abertura às importações depende de uma rápida reação das exportações.
As atenções estão voltadas para o saldo comercial dos próximos meses. Resultados negativos pressionariam a política de câmbio.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Planejamento, prevê que até junho o saldo comercial será revertido, acumulando um superávit de US$ 788 milhões. Um resultado como esse daria mais fôlego ao governo para enfrentar as adversidades externas.
Mas o cenário agravou-se radicalmente com a rápida deterioração da situação econômica e política do México e da Argentina. E ainda que não haja qualquer crise análoga ou iminente no Brasil, o país não tem como isolar-se da América Latina.
Os investidores internacionais —justa ou injustamente— não aparentam fazer grande distinção entre os países latino-americanos. As saídas de capital do Brasil, de US$ 1,9 bilhão em janeiro e US$ 1,4 bilhão em fevereiro, indicam que há, para dizer o menos, sérias dúvidas quanto à solidez da atual política.
A ausência de fluxos financeiros do exterior exige portanto uma reavaliação das políticas que dão sustentação ao Plano Real. A idéia inicial de centrar o combate à inflação na presença maciça de produtos importados a baixo custo exige, hoje, uma vigorosa recuperação das vendas externas brasileiras.
O esforço para recuperar o superávit comercial deve ser central na estratégia do governo. Mas o desafio maior é conseguir esse superávit sem artificialismos, subsídios ou comprometimento das vitórias já alcançadas contra a inflação.
Isso é possível —autoridades têm insistido no propósito de reduzir o custo Brasil, em conquistar mercados externos com base em ganhos reais de competitividade. Resta agir com vigor, reconhecendo que a redução do custo e do risco Brasil exige a aprovação, o quanto antes, das reformas constitucional e fiscal. Fora isso, é tudo especulação.

Próximo Texto: Adeus às armas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.