São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Adeus às armas

Implantada com alto índice de aceitação popular, a Operação Rio chegou ontem ao fim depois de quatro meses. O balanço da participação das Forças Armadas no combate ao tráfico e à violência registra violações de direitos civis e mostra que o cidadão carioca continua a correr o mesmo risco de ser sequestrado e de ser vítima de balas perdidas em tiroteios de traficantes. O comando do comércio de drogas, por sua vez, só foi alterado devido às disputas internas da bandidagem por pontos de venda, enquanto o tráfico de varejo prosseguia ativo como sempre.
Tal retrospecto demonstra que a Operação Rio, quanto a seus efeitos concretos, teve um saldo melancólico. Mas é preciso ter em mente que a intervenção das Forças Armadas por si só não poderia solucionar uma situação urbana e econômica que depende da capacidade de intervenção social do Estado e de uma ampla reforma da polícia.
A ação militar federal pode ter colaborado em outro sentido. Vislumbrou-se a possibilidade de romper tabus e de modificar uma imagem: a de que o poder público seria sempre ou corrupto ou impotente diante da escalada da criminalidade.
Se os números da violência não condenam inteiramente a Operação —ela mostrou ao menos que o Estado pode subir o morro—, servem como alerta. Depois de quatro meses de soldados nas ruas, o Rio voltou apenas a ficar a um passo do estado de pré-caos que suscitou a intervenção militar federal.
Para justificar-se, a participação das Forças Armadas deveria ter servido para que os vários níveis de governo dessem início à reforma das forças policiais e começassem afinal a levar os serviços básicos às favelas, vários deles usurpados de forma anárquica e demagógica pela bandidagem. Cabe agora ao poder público partir para a verdadeira invasão do Rio, a única que pode ter efeitos realmente duradouros —a dos direitos de cidadania.

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