São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Entre Johannesburgo e Montreal

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Um mapa da violência sobre São Paulo concluído ontem mostra como uma cidade produz zonas de guerra, separadas por uma invisível fronteira —é um exemplo que serve para a imensa maioria das grandes cidades brasileiras. E uma dica valiosa sobre como a violência reflete o apartheid social.
Realizado pelo Pro-Aim, da Prefeitura, o documento divide São Paulo em 95 distritos, englobando todos os bairros. Neles se abrigam aproximadamente 10 milhões de habitantes.
No ano passado, o abastado distrito de Itaim-Bibi obteve um índice capaz de colocá-lo no Primeiríssimo Mundo: 2,1 assassinatos por cada 100 mil habitantes. Em Montreal (Canadá), por exemplo, essa taxa é de dois.
Há mais ilhas desse tipo em São Paulo: Vila Mariana (6) Morumbi (6,4), Moema (8,9) Consolação (9,5) Alto de Pinheiros (10). Ou seja, lugares onde existe proteção policial —e uma morte costuma ter repercussão.
Ladeando essas regiões, estão zonas de guerra conflagrada —o que mostra como o pobre é a maior vítima do pobre. O distrito de Cachoeirinha, líder da lista negativa, ostenta uma taxa de 130 assassinatos por 100 mil habitantes. Vamos comparar.
Nos seus piores dias de conflito racial, a cidade de Johannesburgo assustava o mundo com a seguinte estatística: 111 por 100 mil. O Rio ganhou notoriedade com a taxa de 61.
Acima dos 61 do Rio, há uma enorme lista no município de São Paulo, segundo o documento. Exemplos: Brasilândia, com 127 mil habitantes, registra 87; Santo Amaro, com 71 mil moradores, 88; Grajaú, com uma uma população de 100 mil, bate nos 83.
A Sé, centro da cidade, exibe a taxa de 88 —pior do que Washington, uma das cidades mais violentas do mundo, com seu índice de 78 por 100 mil.
Por trás de todos esses números, há uma constatação óbvia: em São Paulo, "Johannesburgo" está cada vez maior do que o "Montreal".
E vão precisar mais do que as Forças Armadas para vigiar as "fronteiras".

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