São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Idos de março

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO — Não se deve culpar os cariocas nem o prefeito César Maia pelos avanços e recuos a respeito do nome da avenida litorânea onde Ipanema em certo sentido começa e, em outro sentido, acaba. O bairro tem avenidas e ruas com nomes estranhos, que pouco ou nada têm a ver com a história, a glória e a desgraça da cidade.
Já me explicaram suficientes vezes quem foram e o que fizeram Vieira Souto, Garcia Dávila, Barão da Torre, Barão de Jaguaribe, Visconde de Pirajá —poderia citar quase todas as ruas de Ipanema e, com exceção do Vinicius de Moraes, que é recente, e do Prudente também de Moraes, que foi presidente da República, ignoro compactamente os feitos e as virtudes da maioria dos patronos do bairro.
Estão culpando o alcaide pelas indecisões e, paradoxalmente, pelas precipitações. Ele chegou a ser ameaçado de passar o Carnaval em cana, caso não substituísse o nome do Tom Jobim pelo de Vieira Souto. Jamais desejaria mal ao prefeito do Rio, mas seria curioso ter o nosso síndico na cadeia, junto com os bicheiros que eram até há pouco os principais promotores do Carnaval.
Pessoalmente, não tenho opinião firmada sobre um nome ou outro. Tom é reverenciado todos os dias, cada vez que alguém lembra uma de suas músicas. Os moradores da avenida terão um trabalhão com a alteração dos endereços e escrituras. Não é esse o problema.
Penso na hipótese de termos um prefeito preso por tanto e, ao mesmo tempo, por tão pouco. Até hoje a humanidade não chegou a resultados satisfatórios em diversas e mais importantes questões. Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Onde está a ossada de Dana de Teffé? Quando Itamar irá para Lisboa? De quantos filhos o Romário será acusado de ser pai?
Cobrar do César Maia uma definição que atravesse os tempos e marque um momento da história é, além de covardia, uma inutilidade. Agora, ter um prefeito —ou outra qualquer autoridade— em cana por alguns dias é uma idéia saudável e estimulante.

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