São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995
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Franceses tentaram negociar após acordo

Proposta baixava custos em US$ 400 mi

GUSTAVO KRIEGER
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro rechaçou uma manobra da empresa francesa Thomson que poderia ter reduzido em US$ 400 milhões o custo do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), estimado em US$ 1,4 bilhão.
A manobra foi tentada em novembro de 94, quatro meses depois que o governo brasileiro anunciou a escolha da empresa Raytheon (EUA) para instalar o Sivam.
A principal adversária da Raytheon na disputa pelo Sivam tinha sido justamente a Thomson.
Em novembro, a empresa francesa voltou ao ataque, alegando que poderia reduzir o custo do Sivam usando um novo sistema de controle aéreo, baseado no uso de satélites e de sensores colocados em aeronaves.
O modelo do Sivam adotado pelo Brasil se baseia no uso de radares terrestres, espalhados pela Amazônia.
Em novembro de 94, o governo brasileiro ainda não tinha assinado o contrato com a Raytheon, porque o Senado não aprovara os empréstimos externos necessários para financiar o Sivam.
Diplomatas franceses procuraram parlamentares brasileiros envolvidos na votação dos empréstimos, como os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Gilberto Miranda (PMDB-AM).
Eles pediram que os parlamentares retardassem a votação dos empréstimos, para que a Thomson pudesse apresentar sua proposta.
Suplicy informou o então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mário Cesar Flores, da investida dos franceses.
Em resposta, o governo aumentou o lobby para que o Senado aprovasse os empréstimos.
Flores passou a ter contatos diários com Miranda, que era o relator dos pedidos de empréstimos do Sivam na Comissão de Economia do Senado.
O lobby de Flores foi reforçado por políticos norte-americanos, interessados em favorecer a Raytheon.
O senador norte-americano Edward Kennedy enviou uma carta para o embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Paulo Tarso Flecha de Lima, em que defendia a Raytheon.
Menos de 24 horas depois, Flecha de Lima repassou cópia da carta a Gilberto Miranda, mostrando o "bom conceito" da Raytheon nos EUA.
Em 21 de dezembro, Miranda cedeu e apresentou parecer favorável aos empréstimos para o Sivam, que foram votados no mesmo dia.
A votação abortou o lobby da Thomson.
O jornal "The New York Times" disse que a agência de espionagem norte-americana CIA teria sido responsável pela vitória da Raytheon sobre a Thomson na disputa pelo Sivam.
A CIA teria denunciado que a Thomson tentara subornar funcionários do governo brasileiro.

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