São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro ligou CIA a funcionário francês

RENAUD GIRARD
DO "LE FIGARO", ESPECIAL PARA A FOLHA

O caso da rede da CIA na França começa como o mais clássico dos filmes de espionagem, em um coquetel diplomático. Em 1992, Henri Plagnol, funcionário do Conselho de Estado, encontra em uma recepção da Unesco uma simpática norte-americana, Mary-Ann Baumgartner.
A apresentação é feita por Christian Meyer, brasileiro, quarentão, boa-pinta, aventureiro mundano. Mary-Ann se diz representante de uma fundação do Texas, cujo objetivo seria melhorar as relações franco-americanas.
Algum tempo depois, ela convida Henri para almoçar em um grande restaurante de Paris. Surge uma amizade, e, com o passar dos encontros, as perguntas de Mary-Ann se tornam mais precisas. Mas, em seu cargo, Henri não conhece nenhum segredo.
Com a vitória da direita na eleição legislativa, em 1993, Henri é nomeado conselheiro técnico no gabinete do primeiro-ministro Edouard Balladur.
No dia 13 de abril, ele é convocado com urgência ao escritório do diretor de gabinete. É informado de que a DST, a contra-espionagem francesa, tem um dossiê sobre ele. Afirmam que Mary-Ann é agente da CIA. O que preocupa a contra-espionagem francesa são as perguntas sobre questões agrícolas.
O funcionário sai da sessão furioso, mas "limpo": os policiais admitiram que ele fora um "inocente útil". Mas ele não pode mais permanecer no cargo.
Duas semanas depois, é convocado de novo à DST, que explica: "Estamos diante de uma rede da CIA para obter informações sobre a negociação do Gatt (Acordo Geral de Tarifas do Comércio)".
Querem que ele reinicie o contato com Mary-Ann para ajudar a central francesa a desmascarar a rede norte-americana.
Mary-Ann dá um passo decisivo em setembro: pergunta se Henri poderia encontrar um de seus "patrões", que seria "chefe do lobby de cereais no Minnesota".
O primeiro encontro com o norte-americano, cujo cartão tem o nome "Pastor", ocorre em 16 de setembro. Foram cinco encontros até 14 de janeiro de 1994. A cada entrevista, Pastor entrega a Henri um questionário datilografado para que ele o traga respondido no encontro seguinte e 5.000 francos (cerca de US$ 970).
Henri entrega o dinheiro à DST e prepara as respostas com os policiais. As perguntas são, às vezes, de espantosa ingenuidade como: "O presidente mantém prerrogativas de defesa em coabitação com um premiê opositor?".
Quanto mais se aproxima o fim da negociação do Gatt (15 de dezembro de 1993), mais as perguntas são precisas. Mas a DST fechava o cerco.
Em janeiro, com provas suficientes, a DST decide interomper os encontros. Pastor vai ao último encontro e fica surpreso por ter sido enganado.
A DST assegura a Henri que tudo permanecerá secreto. No dia 22de fevereiro, o jornal "Le Monde" revela o caso.

Texto Anterior: Oposição quer desvalorizar peso
Próximo Texto: Franceses tentaram negociar após acordo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.