São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995 |
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Governo vai reestruturar seu órgão de informações
JOSIAS DE SOUZA GILBERTO DIMENSTEIN Secretaria que substituiu SNI vai transferir 'serviço sujo' para nova agênciaJOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Brasília GILBERTO DIMENSTEIN Diretor da Sucursal de Brasília A SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), substituta do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações), começa nesta semana a buscar o auxílio das universidades. O órgão, que antes frequentava o meio acadêmico apenas para bisbilhotar, está agora à procura de cérebros capazes de pensar o futuro do Brasil. O novo titular da SAE, embaixador Ronaldo Sardenberg, pretende fazer visitas às principais universidades do país. Começará pela USP (Universidade de São Paulo), nos dias 9 e 10 de março. A iniciativa tem três objetivos: 1) ele quer explicar à área acadêmica como funcionará a "nova SAE"; 2) quer recrutar pessoas para compor a sua equipe técnica -das cerca de 120 vagas de que dispõe, preencheu até o momento só 80; 3) deseja organizar seminários sobre temas considerados estratégicos. Apelidado de "monstro" pelo general Golbery do Couto e Silva, um dos formuladores da política de segurança nacional durante as gestões militares, o antigo serviço secreto brasileiro passa por uma reformulação. Todo o trabalho de espionagem será agora controlado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que terá a sua estrutura detalhada em projeto de lei. A idéia é que a agência realize a bisbilhotice político-ideológica, livrando a SAE daquilo que os agentes chamam de serviço sujo. O general Fernando Cardoso, ex-chefe do Gabinete Militar de Itamar Franco, comandará a Abin. Ele não terá contatos diretos com o presidente da República. Informes Seus "informes" serão submetidos antes ao secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, incumbido de supervisionar as atividades da Abin. Quanto à SAE, Ronaldo Sardenberg planeja "desmilitarizá-la". Quer iniciar a transformação pela mudança do conceito de "assuntos estratégicos". Na sua opinião, embora ainda esteja ligada às idéias de defesa e segurança, a palavra "estratégia" hoje engloba significados novos. Menciona como exemplo a estratégia mercadológica, que ganhou importância a partir da tendência de globalização da economia mundial. A intenção de Sardenberg é a de aproximar a SAE da sociedade. Por isso quer fazer seminários, com a participação de acadêmicos e pessoas representativas de diversos setores. "O mundo está em processo de transformação e o Brasil não pode mais perder o bonde da história", diz Sardenberg. O primeiro seminário patrocinado pela SAE ocorrerá em abril. O tema será "Reforma do Estado". Pelo menos outros dois debates serão organizados pelo órgão em 95: um sobre "O Pensamento Latino-americano", que discutirá a integração dos países do cone Sul, e outro sobre os problemas sociais brasileiros. Há na SAE um departamento para cuidar exclusivamente deste contato mais direto com a sociedade. Trata-se do Centro de Estudos Estratégicos. Os debates organizados pelo centro terão um sentido acadêmico, de estímulo à reflexão. Um outro departamento, chamado de Subsecretaria de Análise e Avaliação, cuidará do assessoramento direto ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Produzirá relatórios sobre a conjuntura. Nas últimas semanas, ocupou-se, por exemplo, da análise sobre as repercussões da crise mexicana na economia brasileira e mundial. O antigo SNI também desenvolvia atividades como essa. Os documentos que produzia eram considerados fracos. Em geral, limitavam-se a reproduzir jornais. Conforme medida provisória da semana passada, a SAE inclui ainda em seu organograma uma Subsecretaria de Programas e Projetos, um setor em que a influência militar ainda é predominante. Texto Anterior: O crime na política Próximo Texto: Família abre o inventário de Leda Índice |
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