São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sarney colide com FHC e bloqueia MP

MARTA SALOMON; VIVALDO DE SOUZA; MÔNICA IZAGUIRRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A medida provisória (MP) que permite cobrir parte do déficit público com recursos da Seguridade Social e da Previdência abriu uma crise entre o governo e o Congresso. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiu bloquear o processo de votação da medida.
O Congresso só tomará conhecimento oficial da MP 935, publicada no "Diário Oficial" de anteontem, depois que o presidente Fernando Henrique Cardoso apresentar explicações por escrito numa exposição de motivos.
A decisão de Sarney passa por cima do Congresso, que prevê a leitura da MP no plenário 48 horas após sua publicação. Foi uma resposta à violenta reação de deputados e senadores antecipada pela Folha.
Devolução
A devolução da medida ao Palácio do Planalto foi requerida a Sarney pelo líder do PMDB —o maior partido da base de sustentação do governo— senador Jader Barbalho (PA), e também pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PPR-SP). Mas Sarney preferiu aguardar a exposição de motivos.
Numa tentativa de apagar o incêndio durante um almoço com líderes partidários, os ministros da Fazenda, Pedro Malan, e do Planejamento, José Serra, reivindicaram "liberdade de movimentos" para o governo deslocar recursos de uma área para outra.
A pedido de Malan, o secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, explicou que a Previdência não tem cumprido a obrigação legal de repassar recursos à Saúde, e, por isso, o governo estava fazendo uma espécie de operação triangular: bancaria a Saúde e tiraria dinheiro da Previdência para pagar os aposentados da União.
A operação garantiria R$ 500 milhões por mês de alívio ao caixa do Tesouro Nacional e é uma das mais importantes medidas do recente pacote fiscal.
Atualmente, por imposição da lei de custeio da Previdência, o Tesouro só pode lançar mão dos recursos da Seguridade para cobrir até 10% do pagamento dos aposentados da União.
Os argumentos da equipe econômica não convenceram o líder do PFL, deputado Inocêncio Oliveira (PE), que provocou o assunto no almoço. "Ponham isso tudo no papel, junto com os números", cobrou o líder.
O Congresso vai aguardar as explicações do Planalto para depois decidir se os efeitos da MP serão ou não suspensos. Segundo Sarney, os parlamentares poderão se recusar a admitir a medida.
Serra e o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, já foram convocados pela comissão de Seguridade Social da Câmara para dar explicações sobre a medida.
A MP 935 também será contestada na Justiça. O deputado Luiz Gushiken (PT-SP) entra hoje com uma representação na Procuradoria Geral da República questionando a medida. O deputado entende que a MP fere pelo menos dois artigos da Constituição.
Segundo o deputado, o governo contrariou o artigo 195 da Constituição ao dizer que a União ficaria desobrigada de financiar a Seguridade Social. O atraso nos repasses do PIS-Pasep ao Fundo de Amparo ao Trabalhador estaria em desacordo com o artigo 239.
Colaboraram VIVALDO DE SOUZA e MÔNICA IZAGUIRRE, da Sucursal de Brasília.

Texto Anterior: FHC recorre a dois projetos para levar mínimo a R$ 100
Próximo Texto: Stephanes afirma que não discutiu medida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.