São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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FHC enfrenta rebelião em dia de pânico no mercado

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo descobriu-se ontem totalmente desarticulado no Congresso. A base política governista estava em chamas.
Preocupado com a tramitação das propostas de reforma constitucional, Fernando Henrique e alguns ministros saíram em campo para tentar debelar o incêndio. O governo utiliza dois tipos de munição: palavras e cargos.
Armados de palavras, os ministros José Serra (Planejamento) e Pedro Malan (Fazenda) receberam líderes partidários para um almoço.
Previram que, até a próxima semana, a excitação do mercado de câmbio estará sob controle.
Fernando Henrique sinalizou a interlocutores com os quais conversou a intenção de azeitar a distribuição de cargos do segundo escalão.
Em meio à crise, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, se faz de chefe da Casa Civil, posto oficialmente ocupado por seu amigo Clovis Carvalho.
Carvalho é o principal alvo de críticas dos congressistas. Alega-se nos bastidores que tem barrado no Palácio do Planalto os pedidos dos políticos. Diz-se que é um burocrata.
Dono de alguns dos postos mais cobiçados do organograma oficial, Motta avisou aos aliados que aceitará indicações para a direção das subsidiárias da Telebrás nos Estados.
A desenvoltura do ministro levou um de seus antigos desafetos, Pimenta da Veiga, a renunciar ontem ao posto de presidente do PSDB, abrindo mais um foco de incêndio.
Sob reserva, Motta vinha criticando Pimenta. Em tom irônico, Serjão, como é chamado na intimidade, alfineta: "Ele (Pimenta) não pode ser mineiro. Deve ser goiano. Briga com todo mundo".
Há convicção no Planalto de que a atmosfera de crise que cerca o governo é artificial. Acredita-se que os congressistas apenas se aproveitam de uma semana difícil para testar a capacidade do governo de resistir ao toma-lá-dá-cá.
Há profunda irritação com o PMDB, em tese uma legenda aliada. O partido faz jogo duplo. Enquanto Jáder Barbalho, líder no Senado, insufla seus liderados a aprovarem o projeto que limita as taxas de juros reais a 12%, o presidente da legenda, Luiz Henrique, debate com Serjão o preenchimento de cargos nas estatais de telecomunicações.

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