São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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Vai mal

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, começa atuar nos bastidores como uma espécie de chefe de Gabinete Civil e articulador político do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao ocupar esse espaço, ele mostra como o governo está desorientado.
Fernando Henrique conseguiu uma façanha ao sair vitorioso no primeiro turno. Recebeu apoio, em maior ou menor grau, da imensa maioria da lideranças partidárias. Inclui-se, aqui, Luiz Inácio Lula da Silva e Paulo Maluf.
Está transformando essa façanha em outra façanha: as alianças não conseguem virar apoio efetivo. Ou seja, não existe oposição, mas, ao mesmo tempo, também não existe situação.
O que se vê, porém, no Congresso: o governo é criticado por parlamentares do próprio PSDB, como ocorreu ontem na reunião dos tucanos. Para apimentar o ambiente, Pimenta da Veiga renunciou à presidência do partido.
Medidas são enviadas ao Congresso sem que as lideranças tomem prévio conhecimento e possam defendê-la. A reclamação é do líder do PSDB na Câmara, José Anibal. Querem fazer picadinho da medida provisória com alterações da Previdência.
Apresentado com o número 2 do governo, o chefe do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho, virou sparing do senador Antônio Carlos Magalhães. Ontem levou mais algumas bordoadas. Leitura entre políticos: não tem força. O prestígio de Clóvis Carvalho no Congresso bateu num ponto crítico.
Nesse clima de "Casa da Mãe Joana", natural que personagens entrem no jogo para tentar salvar a articulação política —Sérgio Motta é, entre todos os ministros, o mais íntimo de Fernando Henrique Cardoso.
Como não existe, de fato, uma chefia forte do Gabinete Civil, cada ministro age isoladamente. Candidato à Presidência ou ao governo de São Paulo, José Serra dá entrevistas falando de todos os assuntos, sentado na cadeira imaginária de primeiro-ministro. Anuncia, por exemplo, que vai renegociar o contrato do Sivam (sistema de radares na Amazônia) sem consultar o chefe da SAE, Ronaldo Sardenberg, responsável pelo projeto.
Moral da história: até agora, o governo é seu maior opositor.

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