São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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BC faz choque de juros e compra dólar

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um choque de juros, mudança na "banda cambial" e adoção série de medidas de restrição à saída e de incentivo à permanência dos recursos no Brasil, o Banco Central (BC) conseguiu ontem acalmar o mercado financeiro.
Foram sete leilões de compra de dólares, sempre pela cotação de R$ 0,880 (o novo piso da banda).
O primeiro leilão, realizado às 10h34, foi o que causou o maior prejuízo aos especuladores.
O dólar era negociado, naquele momento, a R$ 0,863. Muitos bancos entraram no leilão a este preço. O BC anunciou a mudança da "banda" depois do leilão.
A partir de agora, o preço mínimo do dólar comercial (exportações e importações) é de R$ 0,88 e o máximo de R$ 0,93. O BC, em seu comunicado, firma o compromisso de só atuar nas duas pontas.
Ontem, o dólar comercial fechou cotado na venda a R$ 0,882, enquanto o dólar paralelo foi negociado a R$ 0,905.
O saldo do que se chama no mercado de "a semana negra do real" foi o seguinte: 1) o BC vendeu aproximadamente US$ 6 bilhões para segurar o dólar; 2) destes, pelo menos US$ 2,1 bilhões saíram efetivamente do país; 3) do que ficou, US$ 1,5 bilhão o BC conseguiu recomprar ontem.
Os números mostram que o mercado fecha a semana inundado de dólares e seco de reais.
O mais provável, avaliam os analistas, é que o BC inicie a próxima semana novamente recomprando dólares.
O maior incentivo para ficar em real foi dado às 9h20 da manhã de ontem. O BC comprou dinheiro no over (operações de um dia com títulos públicos) pagando uma taxa-over de 6% —a taxa anterior era de 4,2%.
Este choque de juros equivale a um ajuste de um ponto percentual —a taxa efetiva no mês passou de 3,22% para 4,25%.
Depois de elevar os juros, o BC recomprou sete lotes de títulos públicos. Foram os BBCs que venciam nos dias 15, 22, 29 de março e 5 de abril e as LTNs que venciam em 3 de abril, 2 de maio e 1º de junho. Os títulos mais curtos foram recomprados pela taxa de 6%, os mais longos por 6,15%.
Essa operação equivale a injetar recursos na economia. O mercado avalia a injeção em R$ 2 bilhões.
Grande parte desses recursos acabou voltando para os cofres do próprio BC. Ontem, os bancos tiveram que pagar os dólares comprados na véspera.
A escassez de reais ficou evidente no mercado de CDI-over (negócios de um dia com títulos privados). Enquanto o juro no over (títulos públicos) ficou em 6% (taxa-over), no CDI bateu em 7,8%.
A enorme troca de mão do dinheiro promovida nos últimos dias —com as oscilações dos juros, do câmbio, dos mercados futuros e das expectativas — pode fazer perdedores e vítimas. O rescaldo não acabou.
Mas, independentemente do choque de juros, a Bolsa paulista teve alta de 25,62%, a segunda maior da história.

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