São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Pacote do BC reduz a demanda por dólares

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O pacote de medidas aplicadas ontem pelo Banco Central, e que controlou a crise cambial, teve três objetivos: reestimular a entrada de dólares, dificultar a saída e, especialmente, dar prejuízo para o investidor ou empresa que ficar com dólares em caixa.
O primeiro objetivo foi simples de atingir. O BC eliminou restrições e reduziu impostos sobre a entrada de capitais para aplicação em bolsa e em renda fixa. Restrições e impostos foram aplicados no final do ano passado, quando o problema do país era o contrário, a entrada excessiva de dólares.
O segundo objetivo foi alcançado com duas medidas. O BC proibiu o pré-pagamento de compromissos externos. Dada a incerteza quanto ao limite de alta do dólar, importadores e empresas que têm dívida em dólar passaram a comprar desde já a moeda americana.
A lógica é a seguinte: uma empresa que tinha prestação de US$ 100 mil, vencendo em 28 de abril, por exemplo, sabia que, na semana passada, gastaria R$ 88 mil para comprar os 100 mil em moeda americana. Se deixasse para fazer a compra em 28 de abril, a quanto estaria o dólar?
Com a incerteza, a ameaça de alta descontrolada, as empresas devedoras em dólar começaram a se antecipar e comprar a moeda americana. E assim pressionavam a alta da cotação.
O BC simplesmente proibiu esses pré-pagamentos. E também determinou um alongamento nos prazos para a tomada de financiamentos externos, de modo a evitar a concentração de pagamentos.
O terceiro conjunto de medidas criou uma situação que dá prejuízo para o banco ou a empresa que mantiver dólares em caixa.
Até ontem, um banco poderia manter em suas contas até US$ 50 milhões de dólares comprados no câmbio comercial e US$ 10 milhões adquiridos no câmbio flutuante. O que excedesse aqueles valores teria que ser depositado no BC, que paga de juros a menor taxa internacional (a Libor, do mercado londrino, que era ontem de 6,4% ao ano) e ainda com desconto de um oitavo.
Não é negócio para ninguém deixar os dólares nessas condições.
E ontem o BC reduziu os limites para manter dólares em caixa. Agora, bancos só podem manter até US$ 5 milhões no comercial e US$ 1 milhão no flutuante. O resto tem que ir para o BC.
Isso, combinado com a alta da taxa de juros para aplicações em real, dá prejuízo para quem fica com dólares depositados no BC. A rentabilidade desses depósitos ficará em torno de 5,5% ao ano, em dólar. E a do real, com o aumento da taxa de juros de ontem, é de 4,25% ao mês. Mesmo que o dólar sofra uma improbabilíssima valorização de 50%, ainda é negócio ficar aplicado em reais.
E tomar reais emprestados para comprar dólares é rematada loucura.
Como os limites de US$ 5 milhões e US$ 1 milhão por banco são muito baixos, a demanda por dólar caiu bruscamente ontem. O movimento foi o contrário. Bancos em empresas trataram de devolver ao BC os dólares que haviam adquirido ao longo da semana.
A pá de cal na alta do dólar foi a decisão do BC de vender US$ 5 bilhões em títulos indexados à moeda americana. Ofereceu papel com valor expresso em dólar, mas negociado em reais equivalentes, para quem tem compromisso futuro em moeda americana. E cada dólar vendido nesse papel é um dólar (papel moeda) que se economiza das reservas.

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