São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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FHC atribui crise à equipe do Banco Central

JOSIAS DE SOUZA; VIVALDO DE SOUZA; CARI RODRIGUES

JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso, 63, atribui a crise provocada pelo Real 2 à imperícia da equipe do Banco Central. Sua opinião, revelada em diálogos reservados, foi comunicada, de forma polida, ao presidente do BC, Pérsio Arida, em conversa que ambos tiveram anteontem à noite.
No instante em que recebeu Arida, no Palácio do Planalto, Fernando Henrique estava preocupado. Pouco antes, reconhecera a um auxiliar que vivia o pior dia desde a posse.
Não bastassem os dados sobre a existência de uma rebelião em sua base política, o presidente fora informado de que o BC havia torrado, só na quinta-feira negra, US$ 5,5 bilhões de suas reservas para segurar a cotação do dólar.
Desse total, o governo não veria mais a cor de pelo menos US$ 1 bilhão, relativos à fuga de capitais externos tachados em Brasília de "especulativos". Somado ao que os investidores estrangeiros retiraram do país de segunda a quarta-feira, o terremoto do câmbio sorveu das reservas o equivalente a cerca de US$ 1,5 bilhão.
O presidente cobrou de Arida providências para estancar a sangria de reservas. O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, ocupava-se justamente da elaboração do pacote que acabou sendo anunciado entre a madrugada e a manhã de ontem.
Franco teve ajuda do economista José Roberto Mendonça de Barros, secretário especial de Política Econômica da pasta da Fazenda.
Pouco antes da meia noite, Arida telefonou para Fernando Henrique, para informar-lhe sobre o conteúdo das medidas, debatidas em reunião que contou com a participação dos ministro Pedro Malan (Fazenda), José Serra (Planejamento) e Clóvis Carvalho.
A despeito dos elogios públicos que encomendou ontem ao seu porta-voz, Sérgio Amaral, o presidente não gostou do desempenho do time de auxiliares que escalou para o Banco Central. Em seus desabafos, não falou, porém, em substituições.
A Folha apurou que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, compartilha da opinião de Fernando Henrique. A tese de Malan, superior imediato de Arida, é a de que houve um erro de comunicação do BC. A instituição não soube explicar a nova política cambial às pessoas que operam no mercado.
O principal erro do BC foi cometido na tarde de segunda-feira, dia do anúncio do Real 2. Confuso com o comunicado do BC, que estipulava duas bandas —uma para vigorar até o final de abril e outra para maio—, o mercado foi à cata de informações.
Foi então que a mesa de operações do BC informou que os valores mínimos e máximos previstos nas faixas de flutuação poderiam variar a qualquer tempo. Em vez de emitir um novo comunicado, os esclarecimentos foram prestados individualmente, gerando ruídos de comunicação.
O equívoco foi reforçado por Pérsio Arida na manhã de terça-feira. Em reunião com operadores do mercado, o presidente do BC repetiu que o BC poderia mudar os valores das bandas a qualquer tempo. Foi a senha para que o mercado investisse em dólares.
Avalia-se que o BC errou também ao comprar dólares no mercado futuro ao preço de R$ 0,93. A providência aguçou a ambição dos investidores. O resultado é que ontem o BC foi forçado a anunciar a nova banda, que tem como teto R$ 0,93, que pelas regras iniciais só seriam praticados a partir de maio.

Colaboraram Vivaldo de Souza e Cari Rodrigues, da Sucursal de Brasília

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