São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Fiesp teme volta do "vírus da indexação"

ANTONIO CARLOS SEIDL; CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande preocupação da indústria paulista é o reaparecimento do vírus da indexação na esteira da alta dos juros e da flexibilização da política cambial, de acordo com Boris Tabacof, diretor titular da Economia da Fiesp.
"O maior risco que corre o Plano Real é a tentação de se vincular os preços à taxa de câmbio, principalmente os preços administrados pelo setor público", disse.
Ele disse que a indústria tem condições de administrar as pressões de custos que podem surgir da desvalorização do real e alta dos juros, desde que o governo dê o exemplo nas tarifas públicas.
Para ele, uma coisa é absorver um repique da inflação por um ou dois meses, outra bem diferente é recair na "velha dança" da indexação. A Fiesp concorda com a prioridade dada pelo governo ao estímulo às exportações.
"O dólar não é chuchu", disse lembrando que, no Brasil da cultura inflacionária, quando o chuchu subia no Rio de Janeiro se aumentava os preços da fábrica de sapatos no Rio Grande do Sul.
Para a Fiesp, o lado real da economia está demonstrando capacidade rápida de adaptação às mudanças da política econômica.
Para ele, o governo está mostrando competência. "O governo dá um sinal de força ao mudar de posição com rapidez na política cambial, porque o mundo mudou desde dezembro e as condições do país também mudaram".
Antes, disse, era preciso arrochar a exportação, mas agora é preciso arrochar a importação e atrair capitais externos para financiamentos e investimentos.
Tabacof disse que a administração da posição externa do país passou a ser crítica nesse quadro de uma convulsão internacional "seríssima".
O presidente da Ford, Ivan Fonseca, disse que, apesar da desvalorização cambial, a empresa estuda aumentar suas metas de importação de veículos. "O mercado de carros importados sempre trabalhou com valores em dólar."
Além disso, segundo ele, os planos de importação da Ford são conservadores e já contemplam previsão de uma desvalorização cambial no decorrer do ano.
O objetivo da Ford, inicialmente, era importar 80 mil unidades em 95. Com o lançamento do Fiesta, em fevereiro, a meta sobe para 100 mil unidades.
"Queríamos trazer 55 mil Fiestas este ano, mas já achamos que há mercado para 75 mil."

(Antonio Carlos Seidl e Cristiane Perini Lucchesi)

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