São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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'Acabou a lua-de-mel', afirma Paulo Guedes

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo acertou ao redefinir em apenas cinco dias a política cambial, mas isso não será suficiente para recuperar sua credibilidade, que ao olhos dos agentes econômicos foi por água abaixo no decorrer da semana.
Essa é a opinião do economista Paulo Guedes, diretor do banco Pactual e vice-presidente do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).
"Acabou a lua-de-mel. Estamos vivendo uma brutal reversão de expectativas. A falta de habilidade mostrada pela equipe econômica ao operacionalizar a mudança da política cambial foi só o estopim de uma crise muito mais grave".
Segundo ele, o fato de o governo "ter convocado uma banda de rock para tocar frevo mostra só a superfície do problema".
O mais importante, diz ele, "é o imobilismo de Fernando Henrique, que parece estar buscando consenso quando o país precisa de liderança". Segundo Guedes, o futuro do real depende de reformas urgentes, sem as quais "o plano vai fazer água mesmo".
Avaliação igualmente reticente tem o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, professor da Unicamp e ex-secretário do governo Fleury. "As medidas do governo são corretas, mas estão longe de ser as mais agradáveis", diz.
Segundo ele, a situação agora passa a ser "muito parecida" com aquela que o país vivia antes da introdução do real. "Voltamos ao passado. Vamos ter que conviver com uma inflação mais alta para obter de novo saldo comercial".
O economista Edward Amadeo, professor da PUC do Rio, acredita que o governo "perdeu a virgindade". "Apesar de ter corrigido os erros operacionais, o governo vacilou muito e gerou uma crise de confiança com o mercado".
Menos alarmista, o economista Álvaro Zini Jr., da USP, credita a agitação do mercado aos "erros operacionais do governo". Assim mesmo, ressalva, "saímos do sonho e caímos na real".
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, também da USP, partilha com Zini a opinião de que a agitação do mercado durante a semana tem origem na "operacionalização desastrosa" da política cambial. "A expectativa agora é que cessem as incertezas", diz.
O ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen criticou a forma como o BC fez as mudanças.
"A impressão é de que o espetáculo, apesar de ser bom, não foi suficientemente ensaiado", disse.

Colaborou a Sucursal do Rio

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