São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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'Coquetel Clown' encanta sem palavras

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

"Coquetel Clown" é uma deliciosa história sem palavras em que o espectador vai completando o sentido enquanto o espetáculo acontece.
Primeiro, uma caixa colorida se transforma em mulher. Ela cheira e beija uma flor e dança pelo palco. Então, entra um robô geométrico e depois outro e mais outros.
Esses homens-coisa, personagens saídos de quadros quase surrealistas, são seres que se multiplicam no espaço negro do palco, ocupado com uma coreografia ritmada, ao som de instrumentos ao vivo. É uma festa de formas.
A música —mistura de melodia e efeitos de trilha sonora— tem compasso, digamos, matemático, pelo modo como marca as cenas.
O show de robôs é um aparte, uma espécie de comentário adicional ao enredo, que vai seguir orientando a trama.
Trata-se do embate entre duas criaturas malvadas e uma mulher. Ela é salva por um outro ser dançante. Os dois se apaixonam.
Os vilões provocadores pintam e bordam. Amarram a mulher com uma grande corda. Descem à platéia e batem na cabeça do público com martelos de borracha. Dirigem canhões aos espectadores.
Corta para um jogo de bola, que é um estranho bailado ao som de um violino dissonante.
Os atores falam muito pouco e, ainda assim, é um esboço de linguagem. Nada parece humano. "Coquetel Clown" vai, assim, definindo compassadamente seu conteúdo, em pequenos quadros que trazem situações dramatizadas.
Por exemplo, um pássaro saído de uma mitologia qualquer morre de rir e fala uma língua incompreensível. Um submarino e dois peixes navegam no mar enquanto soa a canção "O Barquinho", em português e inglês.
Os vilões vão e voltam (a peça é como se fosse, também, um desenho animado), trazendo armas para combater o casal enamorado.
Esse show de palhaços diferentes é muito divertido e rápido. Todos eles usam os tradicionais narizes de circo, que depois atiram à platéia. E tem perna-de-pau. E tem palhaçada.
Muitas crianças riem. Outras já não gostam tanto, talvez porque esse teatro ofereça um repertório novo, diferente da linearidade a que estão acostumadas. Uma mãe me diz que o som é alto demais.
Mas o espetáculo fica na memória como uma experiência estética de impacto. É tudo Lewis Carroll, parece sonho, é um espetáculo que multiplica os sentidos da arte no melhor "timing".

Peça: "Coquetel Clown"
Direção: Osvaldo Gabrieli
Elenco: Anie Welter, Beto Andreetta, Beto Lima, Domingos Montagner, Osvaldo Gabrieli, Roberto Firmino, Sergio Serrano, Sidney Carla e Wanderley Piras
Onde: Teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650, tel. 573-3774)
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 5,50

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