São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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O buraco é global

CLÓVIS ROSSI

COPENHAGUE — As novas medidas de ajuste no Plano Real, aparentemente destinadas a conter fuga de capital, podem ser o equivalente a tentar tapar com o dedo o furo em uma represa para evitar que ela estoure.
Não que as condições econômicas do Brasil sejam tão ruins que se esteja na iminência de uma "mexicanização". Ocorre que a crise do sistema financeiro é global e não será um país, isoladamente, que conseguirá isolar-se dela.
A essência da crise reside na brutal inversão do movimento financeiro desde que, em 1971, entrou em colapso o sistema de taxas de câmbio fixas. Naquela altura, cerca de 90% de todas as transações com moedas estrangeiras referiam-se ao financiamento do comércio e aos investimento de longo prazo.
Hoje, é o inverso. Cerca de 90% dessas transações são especulativas. E, como é óbvio, a especulação busca o lucro fácil e rápido.
Da gravidade da crise, diz bem o editorial que abre o número desta semana da revista britânica "The Economist", que começou a circular ontem.
"Muita gente no mercado, acostumada como está a violentas oscilações nas taxas de câmbio, não está mais apenas excitada, mas alarmada —e com razão", diz a revista, avessa ao sensacionalismo.
Mais ainda: "Se o dólar continuar caindo tão rapidamente como o fez nos dias recentes, um pânico em grande escala pode facilmente começar".
Note-se que o editorial refere-se, no essencial, às economias do mundo desenvolvido. Imagine-se então o que não pode ocorrer nos mercados que até a crise mexicana eram chamados de emergentes e estão agora submergindo rapidamente.
Ontem, o ministro para o Desenvolvimento de Recursos Humanos do Canadá, Lloyd Axworthy, disse em Copenhague: "Está claro que a solução desses problemas só pode ocorrer no plano internacional".
Ocorre que a discussão de eventuais soluções está remetida para a reunião do G-7, o clube dos sete ricos, em julho. A questão é saber se o real e, antes dele, o peso argentino resistem até lá.

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