São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Arida admite erro

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Em contato ontem com esta coluna, o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, disse, humilde, que aprendeu uma dura lição nesta semana —dura e cara para o país. Admite ter tropeçado na comunicação das novas regras do câmbio. "Errei", reconhecendo que a forma do anúncio gerou desnecessária confusão.
Mas, deixando vazar uma ponta de satisfação, afirmou que não foi o único a aprender uma árdua lição. "Quem especulou, perdeu", disse. A crise começou a amenizar ontem de manhã justamente quando surgiram números mostrando especuladores perdendo dinheiro.
Muita gente apostou que o dólar ia para o espaço, enfrentou o Banco Central, mas supreendeu-se com uma rasteira: mudaram-se ontem as regras do jogo, obrigando os bancos a se desfazerem dos dólares, armazenados na guerra especulativa. Resultado: a tendência de alta se reverteu. E, óbvio, muita gente quebrou a cara.
O presidente Fernando Henrique Cardoso dizia ontem que, enfim, podia respirar mais "aliviado". Brasília reviveu um clima de pânico que há meses não se via. Falava-se pelos bastidores até em corte de cabeças coroadas da equipe econômica.
Misturaram-se três crises numa única semana: externa (México, Argentina, Estados Unidos), econômica (guerra entre mercado e Banco Central, em meio a sinais de aumento da inflação) e política (rebeldia no Congresso).
A semana mostrou que não havia motivo para histeria, sensação comum em Brasília e, muitas vezes, estimulada pelos espertalhões do chamado mercado.
Mostrou também que não existe motivo para comemorações. A situação do Brasil não é ruim, mas coincide com vendavais em países latino-americanos e surtos de instabilidade nos Estados Unidos.
A chave da estabilidade brasileira —a reforma da Constituição— vai exigir uma disputa com o Congresso várias vezes mais árdua do que a encenada entre o Banco Central e o mercado. O governo não conseguiu convencer ainda de que dispõe de habilidade de negociação política.
PS — Sou obrigado a reconhecer que a humildade de Arida, ao reconhecer erro, é uma demonstração de coragem. Errar é comum; difícil é reconhecer o erro.

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