São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Democracia participativa

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O tempo de Quaresma leva-nos a examinar a consciência no desejo de sincera conversão pessoal e compromisso na construção de uma sociedade solidária, conforme a vontade de Deus.
Nestes meses, o Brasil busca caminhos novos a fim de garantir avanços socioeconômicos para o bem do povo, especialmente das "massas sobrantes". Pertence aos cristãos oferecer, à luz dos princípios do Evangelho e da doutrina social da Igreja, sua cooperação para que o anseio de democracia participativa responda sempre mais ao ideal da justiça e fraternidade para todos.
Nesta perspectiva, elencamos alguns pontos característicos da mensagem cristã na promoção do bem comum:
1) Na raiz dos direitos humanos está a dignidade da pessoa. Para os cristão, toda pessoa é amada com amor fraterno e destinada à felicidade plena de comunhão com o próprio Deus. Somos, portanto, chamados a respeitar, defender e promover a vida digna de filhos de Deus, sem nenhuma discriminação. Daí a importância da Campanha da Fraternidade que mostra a injustiça da exclusão e reafirma o dever de garantirmos a todos condições dignas de vida. O Evangelho nos leva, mais profundamente, à estima a todos, que não cessa, nem mesmo diante da ofensa, procurando restituir ao irmão que erra a dignidade da filiação divina.
2) Os valores éticos decorrem da fidelidade aos ditames da consciência reta. Na própria consciência, o cristão reconhece a voz do Criador, que confere uma dimensão religiosa ao nosso agir moral. Assim, o cumprimento do dever se identifica com a conformidade à vontade divina, revelada pela palavra e exemplo de Jesus Cristo. Isto transforma a promoção da justiça e a caridade ao próximo em expressão de amor ao próprio Deus. Assim, a solicitude pelos excluídos é resposta ao mandamento central da lei nova.
3) A dimensão econômica, importante para a realização da pessoa e o progresso, tornou-se lamentavelmente prioritária, acarretando enorme desequilíbrio na ordem dos valores. A riqueza aparece como valor supremo, gerando acumulação desenfreada de bens e consumismo incontrolável, influenciando o modelo de sociedade e programas de governo. "Ter sempre mais" é um anseio que penetra até no coração do pobre, fomenta desigualdades e violência. É necessária a reeducação dos critérios, à luz dos princípios cristãos.
Para que acumular riquezas de que nunca usufruiremos, devido à brevidade da vida nesta terra? O verdadeiro valor para o cristão está em fazer o bem ao próximo, estreitando relações de justiça, fraternidade e paz. Além do desprendimento pessoal, devemos cooperar para que o governo concentre sua atuação nos programas de atendimento imediato aos excluídos.
4) A fim de que a sociedade seja distributiva e solidária, não basta a ação do governo; requer-se a colaboração dos grupos organizados, associações, sindicatos e outros. O espírito cristão dos membros destes grupos há de contribuir para que se supere o corporativismo, alargando o interesse na defesa e promoção dos direitos dos que não são ainda capazes de se organizar: crianças, idosos e enfermos.
O cartaz da campanha apresenta o bom samaritano que carrega nos braços o irmão caído e impotente. Na democracia participativa, a vivência da solidariedade fraterna e cristã há de assumir e resgatar a dignidade dos excluídos.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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