São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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DEPOIMENTO

"Casar nunca esteve nos meus planos. Filhos muito menos. Me casei com 19 anos, após três meses de namoro, com o Roberto Prado, então com 20 anos e herdeiro da Brasiliense. Sabia que não era a minha. Antes de dizer o 'sim', disse que ficaria com ele enquanto estivesse feliz. Na lua-de-mel, ele começou a falar que queria ter um filho para ter um pedaço de mim. Na primeira vez que falei com simpatia do assunto, ele colocou fogo na minha cartela de pílulas. Voltei grávida. Não fiquei feliz. Engordei 23 kg. Queria um menino. Quando a Roberta nasceu, tomei uma injeção para secar o leite e fiquei dois dias sem vê-la. Contratamos uma enfermeira. Nunca troquei uma fralda, nem preparei uma mamadeira. Quando ela tinha seis meses, saí de casa. Passei dois meses sozinha em Paris, ela ficou com a minha mãe. Roberta tinha 2 anos quando o pai se suicidou. Eu estava no Rio e chorei a morte dele por quatro dias. No quinto, lembrei da minha filha e voltei para São Paulo. Não tive vontade de levá-la para casa. Na verdade, antes de ela nascer eu sempre repetia uma frase de Sartre —'Eu sempre preferi escrever livros a ter filhos. Porque um filho dificilmente sai como você imagina e um livro sai exatamente como você quer'— para justificar minha total falta de vontade pela maternidade. Conforme minha filha foi crescendo, comecei a ter mais contato com ela. Na adolescência me convenci de que, se tivesse de escolher as pessoas que passariam por minha vida, colocaria a Roberta no meio. Não como filha, mas como uma amiga, confidente. Este ano, ela faz 27 anos e estamos meio esfriadas. Faz seis meses que não converso com ela. Ela não me faz falta. Não é uma pessoa que incluo no meu cotidiano, mas sempre estou de braços abertos para acolhê-la." Lígia Goulart, 47, é socialite.

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