São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Mulheres adotam o 'toma que o filho é teu'

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A diretora de marketing da Galeries Lafayette em Paris, Vera Cristina Mendes de Oliveira, 53, passou a guarda de seus dois filhos para seu ex-marido, o empresário Roberto Maracanã, 55, em 1980, antes de se mudar definitivamente para a França.
"Minha carreira estava deslanchando quando recebi uma proposta de trabalho em Paris", lembra. "Para me dar bem tinha que me dedicar em tempo integral ao serviço. Não dava para carregar as crianças."
Hoje, depois de tomar por três anos um calmante para diminuir as crises de ansiedade, Vera acha que agiu bem."Sofri muito mas acho que valeu a pena. Adoro meu trabalho e não quero deixar Paris."
Os filhos —Luciana, 21, e Ricardo, 18— passam férias com a mãe e juram que não se sentem abandonados. "Acho minha mãe um exemplo de independência", afirma Luciana.
A fisioterapeuta Ivone Coelho, 30, também é uma representante da geração "toma que o filho é teu". Sua filha, Renata, nasceu de um namoro de verão no Ceará com o arquiteto Nilton Rinaldi, 35.
Quando a menina tinha dois anos, Ivone mudou-se para Curitiba, onde Nilton mora. Sem dinheiro, nem emprego, bateu um dia na casa do ex-namorado. "Disse que não podia mais criar e deixei a menina na casa dele. Chorava todas as noites. Foi como um aborto."
Nilton nunca tinha visto o bebê e, desesperado, convocou sua mãe e uma tia para ajudar. "Em um mês já tinha me apegado completamente à Renata", conta. Hoje, a menina, com 6 anos, ainda mora com o pai. "Adoro minha filha mas acho que ela está mais feliz com o pai", diz Ivone.
A tradutora Paola Sbardellati, 41, é mãe de duas meninas de pais diferentes. Criou as filhas até 1992, quando ficou doente e sem dinheiro. Na época, as meninas tinham 4 e 12 anos. "Não tinha saída. Peguei a Mahima e a Teresa e deixei cada uma na casa de seu pai. Eles tomaram um susto mas não fugiram à responsabilidade."
Hoje, Paola mora com Teresa, 7, mas Mahima, 15, preferiu ficar com o pai. "Guarda para mim cuida de preso, com filhos e ex-maridos o melhor é o diálogo", diz.
Beth Lago, a Abigail, de "Quatro por Quatro" (novela em que dois homens disputam uma criança), também deixou o filho Bernardo com o pai. Em 1980, quando foi desfilar em Paris, passou a guarda da criança ao ator Eduardo Conde. "Fiquei cinco anos fora e isso não mudou meu carinho por ele, que hoje dorme no quarto ao lado do meu", diz Beth. "Nenhum filho morre ou fica sem um pedaço por estar longe da mãe."
Deixar os filhos sair de casa é um processo complicado para algumas mães. "Levei dois anos para deixar meus meninos irem viver com o pai", diz a astróloga Miriam Andrea, 40. "Na época, eu não conseguia falar no assunto, só chorava. Tinha medo de me distanciar dos meninos."
Depois de quatro anos dormindo longe dos filhos, Miriam acha que a experiência fortaleceu o laço entre mãe e filhos. "É um bom exercício de desprendimento."
Ao contrário da socialite Ligia Goulart, 47, que nunca trocou uma fralda (leia depoimento ao lado), a atriz Cristiana Oliveira, 30, diz ter sentido muita falta da rotina com sua filha Rafaela no ano em que teve de deixá-la com o pai para gravar a novela Pantanal.
"Minha vida ficou totalmente desregrada quando entrei na novela, tinha de viajar e não conseguia dar atenção à minha filha", diz.
Rafaela estranhou a experiência. "Ela chegou a pedir para eu largar a TV", diz. "Foi difícil explicar que, assim como ela, minha carreira era importante e que ela poderia voltar a morar longe de mim outras vezes se fosse necessário."

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