São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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BC ganha 1º round, diz 'scalper'

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

No outro lado da queda de braço travada semana passada pelo Banco Central para segurar o valor do real frente ao dólar, estavam —além de bancos e corretoras— alguns "scalpers".
O "scalper" —ou operador especial da Bolsa Mercantil e de Futuros (BM&F)— opera em seu próprio nome.
É o clássico papel de especulador do mercado, cujo objetivo é lucrar com a diferença de preços entre as ofertas de compra e de venda.
"Sou um dos maiores especuladores do mercado", diz Cláudio Monteiro da Costa, o Nescau, 31, que exerce a função há cinco anos.
Dito assim pode parecer exagero, mas no "ranking" de 94 dos operadores especiais divulgado pela BM&F, Nescau aparece em primeiro lugar.
Os 61 operadores atuantes na BM&F movimentaram em 1994 o equivalente a US$ 68 bilhões no mercado futuro de dólar.
A BM&F classifica seus operadores segundo o número de contratos negociados.
Nescau comprou e vendeu no ano passado 1,8 milhão de contratos apenas no mercado futuro de câmbio.
Isso representa 26% do total de contratos cambiais negociados durante o ano pelos "scalpers" da BM&F.
Em uma parcela significativa destes negócios, Nescau foi apenas intermediário de cinco grandes bancos, que por questão de estratégia não querem que o mercado fique sabendo que estão atuando.
"Nesses casos, sou intermediário da operação —cumpro a ordem de compra ou de venda que foi dada pelo banco cliente e ganho uma comissão", diz.
Faz parte do negócio manter em sigilo os nomes das instituições que usam seus serviços. "Quando os outros operadores me vêem operando com telefone já sabem que é para terceiros."
Nescau começou no mercado financeiro há anos. Primeiro como estagiário da corretora do Banespa e depois como operador de pregão e operador autônomo em uma corretora privada —a Spot.
Em 87, comprou seu título de operador especial da BM&F. Hoje, quem quiser ser um "scalper" precisa comprar o título de um operador que queira sair do mercado. O preço do título gira em torno de US$ 150 mil.
Semana inesquecível
O terremoto cambial da semana passada foi "inesquecível" para Nescau e só ficou favorável ao BC a partir de quinta-feira.
Durante esses dias, ele diz que só conseguiu dormir com calmantes. "No final da semana passada, o BC atuou corretamente para pôr ordem no mercado e conseguiu retomar o controle da situação", diz.
Mas, afinal, o Banco Central ganhou a guerra contra aqueles que especularam apostando na desvalorização do real?
"Até agora, o BC ganhou só o primeiro round. Para ganhar essa guerra ainda tem muito chão pela frente", responde.
O operador avalia que o mercado ainda vai continuar instável a partir de segunda-feira, com alguns bancos tendo sérias dificuldades para acertarem suas contas.
A avaliação talvez seja correta, mas não é demais lembrar: pode ser pura especulação.

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