São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Mulher no comando ainda incomoda

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Só podia ser mulher." Essa é uma das frases mais ouvidas pela engenheira Selma Pugliese, 36, gerente da Itaú Seguros, quando toma uma decisão mais dura.
O arraigado preconceito contra chefes mulheres é menor do que tempos atrás, mas persiste. Estudos da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e do Grupo Catho (veja quadro) mostram que cresce o número de mulheres no comando.
Na FGV, por exemplo, saltou de 6,8%, em 1985, para 28,57%, em 92, nos programas de RH e no curso intensivo de administração.
"É um forte indicativo de que as mulheres estão assumindo postos de comando", afirma a professora Maria Irene Stocco Betiol, 52. Só que o preconceito não tem diminuído na mesma proporção.
"As empresas têm medo que o trabalho não seja prioridade na vida da mulher, o que não é verdade", diz Maria Irene. "Por isso, muitas empresas investem menos no desenvolvimento profissional da mulher."
"Houve uma grande evolução", afirma a gerente Selma, que acha que muitas desempenham melhor as funções antes exercidas por homens. "A mulher exige o máximo de si e supera o homem."
Selma classifica seu relacionamento com superiores e subordinados como "excelente".
Rene Massis, 42, inspetor técnico, seu subordinado, também é um entusiasta da administração feminina. "Existem pessoas com problemas em trabalhar com mulheres, mas eu sou um felizardo", afirmou, na presença da chefe.
O assédio sexual, outro fantasma das mulheres de negócios, também foi vivido por Selma. "Foi muito de leve, por parte de clientes."
Casada há sete anos, ela vai realizar daqui a dois meses o sonho de ser mãe. "Já tive que abrir mão várias vezes, só consegui agora."
Segundo ela, as empresas estão mudando sua filosofia em relação às mulheres que engravidam —o que antes significava uma ameaça de desemprego.
Mulher que exerce cargo de chefia tende ainda a ser mais autoritária em casa.
É o caso da norte-americana Cheryl McDowell, 39, que assumiu há um mês a vice-presidência de Finanças e Administração da American Express.
Ela conta, aos risos, que no auge da "síndrome de chefia", seu marido a interrompe e alerta: "Ei, você não está mais no escritório."

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