São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Romário chora separação e vai a culto

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Romário chegou ao Rio, após quase sete anos na Europa, cercado de suspeitas. A torcida do Flamengo temia —e os adversários torciam— que iria jogar muito futevôlei e pouco futebol.
Dois meses depois, Romário é o artilheiro do time no Estadual com dez gols em oito jogos. Promete mais para hoje a partir das 17h, contra o Fluminense no Maracanã.
Errado. Nos últimos dias, tem feito algo incomum —chorar, e muito. A separação judicial de sua mulher, Mônica, e o afastamento dos filhos, o abalaram.
"Choro por saber que acabou uma vida que foi pensada com minha mulher, acordando sempre com meus filhos, tendo minha mulher ao lado."
O sorriso habitual deu lugar a um rosto sério. Na praia em que costumava jogar futevôlei, ele tem ido raramente.
Na quinta-feira, Romário conversou com a Folha, antes do jogo contra o Campo Grande. Fez dois gols, mas saiu do estádio de cara fechada. "Mas esse momento vai passar, o choro vai acabar e o sorriso, voltar."

Folha - O primeiro "Romarinho" (centro de educação esportiva) será inaugurado neste semestre. Como funcionará?
Romário de Souza Faria - Ele está sendo construído na Vila da Penha (zona norte do Rio), numa praça. Vamos fazer neste ano de cinco a dez "Romarinhos". Estamos pensando em fazer alguma coisa parecida com o Centro Olímpico da Mangueira.
Folha - A mesma estrutura?
Romário - Nós vamos transformar a praça num campo de futebol com tamanho um pouco menor do que o oficial, fazer uma quadra poliesportiva e uma quadra de areia com dimensões de vôlei de praia. Ali vai se jogar futevôlei, esporte que eu amo.
Vamos fazer um complexo com seis, sete salas. As crianças receberão informações sobre muitas coisas. Vamos levar vídeos com depoimentos de atletas.
Crianças vão aprender a aproveitar o lixo, a não desperdiçar água. É um projeto ecológico, também.
Folha - Quem vai financiar os "Romarinhos"?
Romário - O primeiro, a Prefeitura e o governo do Estado do Rio. A construção de cada Romarinho custa entre R$ 350 mil e R$ 500 mil.
Folha - E quem pagará os professores?
Romário - Além dos professores de esporte, haverá outros profissionais. Haverá centro médico e odontológico e assistentes sociais.
Nos primeiros meses, eu vou bancar, com R$ 15 mil a R$ 20 mil por mês. Nesse período, vamos procurar patrocinadores em empresas privadas. Se isso não acontecer, não vou deixar os "Romarinhos" pararem. Meu nome está em jogo.
Folha - Os "Romarinhos" são uma iniciativa sua, em conjunto com Prefeitura e Estado. A propósito de poder público, você vê utilidade prática no Ministério Extraordinário dos Esportes?
Romário - Sim. Se não me engano, o próprio Pelé disse que vai mudar alguma coisa, inclusive em relação à lei do passe do jogador de futebol. É por aí mesmo. E o Ministério pode fazer muita coisa para as crianças. Mas não tenho me ligado em um monte de assuntos.
Folha - Nem sobre o debate que o Congresso abriu sobre a descriminalização das drogas?
Romário - Sou antigo, conservador nesse aspecto. A droga prejudica. Ela tem que ser expressamente proibida. Conheço pessoas que usam drogas. E dá pena.
Folha - Um jovem que fumou um cigarro de maconha deve dividir cela com um assassino?
Romário - Não, isso não, é loucura. A discussão é essa? Mas o Brasil é tão grande, tem espaço para todos. Poderia ser feito um centro de tratamento em cada cidade para recuperar drogados.
Folha - No Sambódromo, durante o Carnaval, você estava quieto, num canto de um camarote, cabeça baixa. Você quase não vai mais ao trailer Viajandão, na praia da Barra (zona sul), jogar futevôlei.
Romário - Ser o Romário hoje tem seus pontos positivos, que são muitos, e tem os negativos. Antes, o que eu mais gostava na vida era parar num ambulante, comer pastel e tomar um caldo de cana. Adoro caldo de cana. Hoje, o Romário vai ser assediado.
Folha - Mas você anda sempre com seis seguranças.
Romário - Eles fazem papel de segurança, mas são amigos meus. O que eu menos conheço, já faz dez anos. Eles são funcionários da minha firma.
Folha - A impressão é que o assédio e os problemas da separação têm deixado você triste, aborrecido, diferente.
Romário - Tem momentos em que eu fico chateado porque não tenho privacidade. Eu estou na praia, quero andar com um amigo, não posso. Não é muito legal. Hoje, mais acostumado, não me aborreço tanto quanto antes.
Eu não sou uma pessoa triste, mas vivo um momento difícil.
Folha - A separação é o momento mais duro da sua vida?
Romário - Está. Não é duro, é difícil. Em princípio, planejei, fiz meus planos em relação à Mônica para ela ser a mulher da minha vida para sempre.
Hoje, cheguei à conclusão que não é isso. Isso é a vida. A vida é bonita porque tem esses contratempos.
(continua)

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