São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Romário chora separação e vai a culto

MÁRIO MAGALHÃES

(continuação)
Folha - O que você prevê para o futuro?
Romário - São essas coisas que me fazem cada dia ficar mais forte. Eu tenho que sair dessa separação com a cabeça erguida, deixar meus filhos numa posição privilegiada e conseguir para a Mônica o que é direito dela. A partir daí, vou viver a vida.
Folha - A sua separação está sendo litigiosa, tornou-se um caso público. Isso o deprime?
Romário - Não. Eu conheço os jornalistas. Eu sei que muita coisa que é publicada não é verdade. Quando eu decidi me separar, eu sabia que ia acontecer isso.
Folha - A separação foi decisão sua?
Romário - Claro, foi uma decisão minha. Eu estava sabendo que realmente ia acontecer.
Folha - Que lembrança que vai guardar da Mônica?
Romário - Existe ainda um carinho, porque ela é mãe dos meus filhos. Foram quase dez anos, entre casamento, noivado e namoro. Foi um bom tempo, foi um tempo legal, feliz. Tem coisas legais que eu vou guardar dela.
Folha - E como será não viver mais com os filhos?
Romário - Infelizmente, tem esse ponto negativo, mas a vida continua. Amanhã, a gente faz outra família. Tanto ela, como eu.
Folha - Como é a sua relação com os filhos?
Romário - Perfeita. Eu sinto que hoje eles estão tristes. Eles têm que entender que foi até pelo bem deles. Duas pessoas viverem na situação em que estávamos, com brigas, é melhor se separar.
Folha - O que você vai fazer quando sua filha for adolescente, apresentar namorados, avisar que vai viajar com amigos?
Romário - Para muitas coisas, eu me sinto até um cara moderno, principalmente depois que vivi lá fora. Mas nesse lado, eu sou meio antigo. O plano que eu tinha para a Moniquinha era botá-la num convento aos 10 anos para ela ficar uns dez anos lá.
Folha - E o Romarinho?
Romário - Vai ter que ser igual a mim.
Folha - Como é ser igual a você?
Romário - Vai ter que ser um cara fiel aos seus princípios, um cara honesto e seguro de si.
Folha - No futebol, você também pode amargar uma frustração. Você sonha em obter o título olímpico em Atlanta (1996). Mas o técnico Zagallo, da seleção, disse que os três jogadores com mais de 23 anos a que o time tem direito deverão ser defensores. Você está preparado para ficar fora da Olimpíada?
Romário - Eu já joguei uma (em 1984) e não ganhei. Minha vontade é voltar para ganhar.
Folha - E se você não for convocado?
Romário - Se eu não for, vai perder o Brasil, como perdeu nas eliminatórias (1993) da Copa dos EUA, quando só joguei a última partida.
E se amanhã acontecer de o Brasil não ganhar, vão encontrar um culpado.
Folha - Os torcedores costumam apontar o técnico como culpado por derrotas.
Romário - Eu não sei quem vai ser. Eu sei que vai ter um culpado. Se eu não for, o Brasil tem chance de ganhar, também. Se eu for, terá mais chances. Ele (Zagallo) sabe da minha disponibilidade de jogar.
Folha - Nos seus primeiros jogos pelo Flamengo, quando não conseguia marcar gol, você foi a uma igreja perto da concentração. Você é religioso?
Romário - Eu acredito que na vida nem tudo é felicidade. A gente atravessa aquela coisa negativa. Sou uma pessoa muito católica, mas sou um ser humano.
Quando a coisa está indo bem, a gente deixa a parte espiritual um pouco de lado. É natural. Aconteceu comigo.
Folha - Você continua indo à igreja?
Romário - Vou sempre.
Folha - Quando você chorou pela última vez?
Romário - De vez em quando eu choro, cara. Por saber que acabou uma vida que foi pensada com minha mulher, acordando sempre com meus filhos. Eu pensei que fosse para sempre, mas não é. É coisa que é para chorar.
Já essas histórias de que tenho filho na Espanha, de mulheres, isso só me faz rir. É palhaçada.
Folha - Você não se incomoda, mas reclama da publicação de reportagens sobre sua vida.
Romário - Já estou supervacinado contra o que as pessoas dizem de mim. Falar de mim é moda. As mulheres que falam de mim arrumam casamento, posam para a "Playboy", saem nas escolas de samba.
Folha - Você se motiva quando "falam mal do Romário"?
Romário - Quando eu voltei para o Rio, disseram: "O Romário só vai jogar futevôlei, não vai fazer mais gols". Em duas partidas eu não fiz gol e já começaram a me malhar e a me pichar. Isso as pessoas já não falam. Hoje, o Romário não joga futevôlei e está fazendo gol a balde, toda hora.
Folha - Às vezes você pensa em bater nos seus detratores?
Romário - No início da carreira, sim. Hoje, não. Eu conheço isso. É um mundo sujo.
Folha - Você diz que hoje se acostumou com essas notícias a seu respeito. Mas as mulheres que disseram ter tido casos com você ajudaram a minar o seu casamento.
Romário - Isso tem a ver com a minha separação, mas a Mônica tem outros motivos, mais sérios.
Folha - Acabou o amor?
Romário - É. O sentimento bonito, aquilo acabou.
Folha - A separação ter ido para a Justiça magoou você?
Romário - Não é que tenha magoado, mas não é uma coisa legal. A Mônica sabe que da minha parte poderia haver esse diálogo.
Folha - Você tem condições de pagar pensão mensal de R$ 50 mil para a Mônica e os filhos, como ela pediu na Justiça?
Romário - Claro que não. Quero o que é meu e vou dar o que é dela. O que eu sei é que ela me ajudou nesse período, esteve do meu lado.
Folha - Quais são as melhores recordações do casamento?
Romário - Casamos em 1988. O melhor foi quando soube que ela estava grávida da Moniquinha e do Romarinho.
Folha - E as tristezas?
Romário - Por exemplo, essas coisas que saem de mulher, a meu respeito, quando eu e a Mônica podíamos viver juntos.
Dizem que eu sou "pegador" (homem de muitas conquistas amorosas). Nada disso. Eu respeito as mulheres porque tenho filha.
Folha - O advogado da Mônica sustenta que um dos motivos da separação foi adultério cometido por você.
Romário - Advogado tem boca para falar mesmo. Só vai aparecer falando.
Folha - Você quer mesmo fazer um programa infantil, como a Xuxa?
Romário - Um sonho meu é um dia mexer com crianças. Um programa é uma grande idéia.

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