São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Matéria para um Nobel

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS E DA

Detecção do último quark confirma modelo teórico da estrutura da matéria
Reportagem Local
A confirmação experimental da estrutura da matéria, como prevista na teoria, pode valer a duas equipes de cientistas nada menos que o Prêmio Nobel de Física.
Mais de 17 anos depois de iniciadas as buscas, pesquisadores no Laboratório Nacional do Acelerador de Partículas Fermi (Fermilab), nos EUA, anunciaram oficialmente no início do mês a detecção de 17 ocorrências da partícula quark top.
Numa das equipes, por coincidência, havia 17 brasileiros (leia texto abaixo).
O quark top era a peça que faltava para confirmar o chamado Modelo Padrão para a estrutura da matéria, proposto na década de 60, pelos americanos Murray Gell- Mann e George Zweig.
Segundo cientistas, a confirmação do quark —resultados preliminares haviam sido divulgados em abril do ano passado— é um dos dez maiores feitos na física deste século.
Quarks são apenas um dos tipos de partícula previstos no modelo. Há seis tipos, ou sabores, de quark, separados em três pares: up e down, strange e charm, bottom e top (alto e baixo, estranho e charme, fundo e topo).
Com quarks up e down são construídos os prótons e nêutrons que existem no núcleo de todos os átomos.
Os demais quarks são mais raros. O top, por exemplo, só existiu nos primeiros instantes após o que os físicos chamam de big bang, a explosão que deu origem ao Universo.
Em aceleradores de partículas como o Fermilab, os físicos tentam recriar as condições que existiam no início do Universo através da colisão entre partículas.
Para produzir artificialmente o top, feixes de duas outras partículas (prótons e antiprótons) são acelerados e conduzidos à colisão (veja figura ao lado).
Duas equipes, com cerca de 400 membros cada, monitoraram no Fermilab o produto dessas colisões.
Detectores colocados pelas duas equipes, chamados D-Zero e CDF, captaram rastros das partículas oriundas das colisões. Processando esses dados, procuraram calcular a massa do quark top.
Os resultados divergem, mas estão dentro de uma ampla margem de erro. Para a equipe do CDF, o top tem massa de cerca de 176 bilhões de elétrons-volt, comparável a um átomo de ouro.
A equipe do D-Zero chegou a um número um pouco maior: 199 bilhões de elétrons-volt.
Esses números passam agora a fazer parte do quadro das partículas fundamentais, comparado à tabela periódica de Mendeleyev.
O quadro se divide em quarks e léptons (entre eles o elétron e os neutrinos). E, além das partículas que constituem matéria, há as responsáveis pelas interações.
Entre essas últimas está a próxima partícula que deve atiçar a cobiça dos físicos e de seus superaceleradores: o bóson de Higgs.
Para confirmar sua existência, ciomeçou a ser construído na Suíça o que deve ser o maior acelerador de partículas do mundo: o Large Hadron Collider (LHC)

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