São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Cúpula termina hoje em Copenhague

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE

Cumprir à risca um manual de bom governo substituiria, com vantagens, a ambiciosa Declaração de Copenhague que representantes de 180 países assinam hoje, ao se encerrar a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social.
Os líderes mundiais se comprometem, entre outros objetivos, a erradicar a pobreza e a alcançar uma situação de pleno emprego.
Mas a torrente de discursos e documentos que forraram os sete dias de debates da conferências sugerem que bem governar permitiria pelo menos chegar perto de tais metas, o que não fica claro nas 94 páginas do documento.
O manual diria que o governo da Costa do Marfim (16º país mais pobre do mundo) não precisaria construir, como está fazendo, uma catedral maior do que a de São Pedro, no Vaticano.
Ou que o Brasil não deveria dedicar, como aponta a ONU, 23% de seu orçamento educacional às universidades, às quais chega apenas 1% da população estudantil.
Ou que é um despautério o mundo gastar US$ 800 bilhões em programas militares. Cortar apenas 1% desses programas daria para fornecer educação primária a 50 milhões de crianças.
O manual sequer precisaria mencionar a corrupção, que leva 10% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional) de alguns países, conforme folheto que a ONU distribuiu na cúpula.
"Recursos e meios estão disponíveis para eliminar os principais aspectos da pobreza mundial. O que tem faltado é vontade política", resume James Speth, diretor do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Para Juan Somavia, presidente da cúpula: "A questão é de prioridades, não de recursos".
Pelas contas do PNUD, as prioridades dos países em desenvolvimento não são exatamente as sociais, pois dedicam a elas apenas 13% de seus gastos.
"Os governos ainda são muito tímidos em formular conceitos de desenvolvimento humano", afirma Dirk Jarre, presidente do Conselho Internacional sobre Bem-Estar Social, uma ONG canadense.
"Frequentemente, os governos parecem incapazes de imaginar tais conceitos e determinar maneiras e meios de implementá-los".
No papel, a cúpula se comprometeu exatamente ao que pede Jarre. Mas "a parte mais difícil (agir) vem agora", diz o subchefe da delegação francesa, Yvon Chotard.

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Sobre a CÚPULA DO HOMEM à pág. 3-3

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