São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Base abriga 28 mil balseiros

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Seis meses depois do acordo entre EUA e Cuba que pôs fim ao êxodo de cubanos que tentavam chegar a Miami por mar em improvisadas balsas, 28 mil deles continuam na base militar norte-americana de Guantánamo.
A Marinha norte-americana está tentando se livrar do encargo de vigiar, alimentar e educar os refugiados. O Pentágono pressiona a Casa Branca para substituir os fuzileiros navais por civis contratados para a tarefa.
"Soldados não são guardas. Nem professores. Nem sanitaristas", diz o secretário-assistente da Defesa, John Deutch, que não se incomoda em disfarçar o mal-estar provocado nos militares.
Entre agosto e setembro do ano passado, 36 mil cubanos foram apreendidos pelos EUA nas águas do estreito da Flórida, passagem de mar que liga o golfo do México aon oceano Atlântico.
Contrariando política em vigor havia 33 anos, o presidente Bill Clinton resolveu negar asilo aos refugiados cubanos para desestimular o êxodo, permitido por Fidel Castro com o objetivo de causar problemas aos EUA.
Eles foram colocados provisoriamente em Guantánamo, base militar estabelecida pelos EUA em território cubano, 1.320 km ao sul de Havana, em 1903 ao final da Guerra Hispano-Americana, que deu independência a Cuba.
Os EUA pressionaram diversos países do Caribe, mais Espanha, Venezuela, Argentina e México para receberem os balseiros.
O Panamá, acaba de devolver a Guantánamo 7.450 deles alegando não ter condições de sustentá-los.
Só 422 aceitaram a oferta de voltar para Cuba voluntariamente. O governo dos Estados Unidos gastou mais de US$ 100 milhões para transformar Guantánamo em cidade improvisada.
Os custos de manutenção agora totalizam US$ 20 milhões por mês. Novas despesas estimadas em US$ 70 milhões vão ser feitas este ano para melhorar as condições de vida locais.
O Pentágono quer que pelo menos os 6.700 soldados mandados como reforço aos 2.300 regularmente estacionados sejam substituídos por civis.
Mas a Casa Branca vacila porque pretende nas próximas semanas conceder asilo a mulheres e crianças, o que deixaria em Guantánamo 20 mil homens descontentes e separados da família, um ambiente potencialmente explosivo.

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