São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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A revolução atomizada

CLÓVIS ROSSI

COPENHAGUE — A falência do sistema de partidos é cada vez mais visível no mundo todo (no Brasil, não pode haver falência, porque jamais houve partidos, com raras e minoritárias exceções). O lugar deles está sendo tomado pelas ONGs (Organizações Não-Governamentais).
Não chega a ser uma novidade, mas torna-se uma potente evidência quando se reúnem em massa como está ocorrendo agora em Copenhague, no Fórum-95, paralelo à Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social.
Na essência, as ONGs parecem congregar os jovens que amavam tanto a revolução. Ou seus filhos, talvez netos. Mesmo quando as pessoas não são as mesmas, o jeitão, a retórica, até os "grafittis' —nada disso mudou muito.
Há, claro, algumas diferenças essenciais. Uma delas: aumentou brutalmente o número de mulheres, a ponto de dar a impressão de que são a maioria.
Outra enorme diferença: a revolução já não é a mesma. Antes, era um conceito globalizante, um modelo abrangente. Agora, não. Cada grupo tem a sua própria pequena revolução na cabeça.
A Transparência Internacional, uma ONG alemã, por exemplo, quer eliminar a corrupção, o "calcanhar de Aquiles da democracia". Já a Organização Mundial do Método de Ovulação Billings (canadense) limita-se a pregar o controle da natalidade tipo "faça você mesma".
De modo geral, as mais ruidosas continuam sendo anti-sistema, mas não sabem o que pôr no lugar dele. Tampouco têm pudor em usar o dinheiro do sistema. A bolsa (de papelão reciclado) distribuída aos jornalistas que cobrem o Fórum e a Cúpula traz, grande, o logotipo do cartão de crédito Eurocard, para citar só um exemplo.
Usam a informática com um sistema próprio, da APC (de Associação para uma Comunicação Progressista, em inglês). São 50 computadores, que permitem aos que não vieram participar das discussões e se manter informados.
São, enfim, menos espetaculares. Falta agora que sejam mais eficientes.

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