São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A volta de Travolta

ANA MARIA BAHIANA
DE LOS ANGELES

A volta de Travolta
Vinte quilos mais pesado, mas com a mesma elegância da êfemera fase de glória e brilhantina, John Travolta volta a ser astro de Hollywood. Aos 40, 17 anos após os embalos e muitos equívocos depois, seu cachê chega a US$ 7 milhões, seu nome é indicado ao Oscar. Ele deve tudo ao adorável violento que encarna em "Pulp Fiction". Travolta não acha que este seja um regresso: "Fui reinventado"

O céu azul da Croisette está cristalino como nunca, uma brisa fresca sopra do Mediterrâneo e você vem descendo a rua do Palais em direção ao hotel Carlton, com a famosa tranquilidade, a elegância fácil que tornou clássicos os primeiros dez minutos de "Os Embalos de Sábado à Noite". Está certo que seu corpo está, no barato, 20 quilos mais pesado —coisa da meia-idade, mais a conhecida tentação dos bons Côtes du Rhône, mais todos aqueles menus "prix fixe". Mas a aura cool ainda é, em essência, a mesma —20 anos de maus projetos, alarmes falsos, "rentrées" jamais consumadas não conseguiram abalar este cerne de autoconfiança, que, agora, parece próximo de encontrar toda a justificação que precisa.
Sobre a sua cabeça desfilam os outdoors: "Pulp Fiction, un film de Quentin Tarantino". Em alguns dias apenas "le film de Quentin Tarantino" —seu filme, seu primeiro grande filme em quase duas décadas— vai arrebatar um dos prêmios mais cobiçados da indústria, a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Mas, agora, nesta tarde clara de primavera, você está feliz apenas por ter feito este filme, por estar em Cannes, por ver seu nome ao lado do de Quentin —"quên-tã", como dizem os jornalistas franceses— dos de Bruce Willis, Uma Thurman, Harvey Keitel, Samuel L.Jackson.
E, se ao descer a Croisette assim com seu passo leve você cruza com algum jornalista, e o jornalista acena com a cabeça, tão respeitoso como um jornalista pode ser, você pára. Pára e aperta a mão do passante: "Você gostou do meu filme? Obrigado! Muito obrigado! É um ótimo filme, não é? Que bom! Obrigado de verdade! Vejo você daqui a pouco."
É maio no sul da França, você tem 40 anos, e é bom ser um astro de Hollywood novamente.
(continua)

Texto Anterior: Dupla rasga a fórmula e faz a festa
Próximo Texto: TODA A FICHA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.