São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Fé em Deus e pé na tábua

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Detesto matérias pagas, mas vendo "Atayde Patreze Visita" eu mais ria do que me irritava, tão ostensivamente falsa era a naturalidade das entrevistas. Consta que sua saída da Record teria sido influenciada pela exibição de cenas inadequadas à carolice, como garotas de biquíni e consumo de álcool. Lógico: se a exposição ao mundanismo pode deixar caidaço o seio da família, convém usar o silicone da fé e o sutiã moral da seleção de imagens.
Saem Patreze e tudo que é "um luxo", mas continuam os depoimentos de empresários que rumavam para a bancarrota até encontrarem a Igreja Universal ("onde o milagre é natural"; "felicidade ao alcance de todos"). Logo atingiram a paz espiritual e a prosperidade, atestada pelo vertiginoso crescimento das empresas e a posse de carros e imóveis. Se fosse possível a conversão de pessoas jurídicas, acho que haveria esperança para o banco inglês detonado por Nick Leeson...
Mas, no meio do conflito entre as emissoras, Patreze é apenas um soldado punido por ler "Playboy" na guarita. Seu expurgo é insignificante comparado à ida da Fórmula Indy para o SBT, que poderá perturbar a Globo se toda a temporada for atraente como o primeiro GP, que teve três brasileiros entre os primeiros colocados.
Foi nessa área, aliás, que a Globo levou um susto em 80. Émerson não tinha chance no Fittipaldi-Ford, e Piquet era só um novato promissor. Talvez descrente da audiência, a Globo deixou a Bandeirantes assumir a F-1, e Piquet ganhou três GPs, disputando com o campeão Alan Jones uma temporada empolgante. A Globo retomou os direitos a tempo de mostrar o primeiro título de Piquet, em 81, e nunca mais ousou largar o osso. A Indy ainda não é tão suculenta, mas seu sabor já melhorou.

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