São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Bancos antecipam cotação de dólar do BC

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

Cinco bancos, entre 21 instituições financeiras que participaram do primeiro leilão oficial de compra de dólar na última sexta-feira, apostaram exatamente na cotação máxima que o Banco Central se dispôs a comprar.
Os bancos Pactual, Real, Nacional, Itaú e Garantia venderam dólares ao BC a R$ 0,880, no leilão das 10h30. Esta foi precisamente a taxa máxima de compra pelo BC.
O mercado interbancário (compra e venda de dólares entre bancos) vinha operando minutos antes com taxas bem mais baixas, chegando a R$ 0,862. O Banco do Brasil, que participou do leilão, ofereceu dólares a R$ 0,863.
Deixaram de ganhar as outras instituições que ofereceram cotações mais baixas no leilão. E perdeu mais quem vendeu por cotações inferiores, antes do leilão, no mercado interbancário.
Ou seja, o governo pode começar a semana enfrentando o desafio de dissipar novas suspeitas envolvendo operações de câmbio com instituições financeiras.
Somente depois do leilão, que terminou às 10h46, o BC comunicaria ao mercado o novo piso para a compra de dólares: os mesmos R$ 0,880. O Comunicado nº 4492, do BC, divulgado às 11h12, fixou esse limite inferior dentro das "faixas de flutuação" (bandas).
Na sexta-feira, os negócios no mercado cambial começaram influenciados pelas medidas tomadas pelo BC —decididas durante a madrugada— e destinadas a conter a fuga de dólares, induzindo os bancos a venderem a moeda.
Com isso, o mercado interbancário abriu com as cotações em queda. Nessa ocasião, circularam os rumores de que alguns bancos poderiam ter acumulado pesados prejuízos, por terem comprado a até R$ 0,888 no dia anterior.
Às 10h30, o BC iniciou o leilão e as cinco instituições entraram vendendo a R$ 0,880 quando, minutos antes, o mercado trabalhava entre R$ 0,862/0,867.
Encerrado o leilão, o BC divulgou ao mercado que a taxa máxima de compra havia sido R$ 0,880. Apenas uma instituição —o Banco Safra— ofereceu dólares a R$ 0,888, ou seja, acima da taxa máxima praticada pelo BC.
A julgar pelas declarações oficiais à imprensa, o governo entendeu que, ao forçar a venda dos dólares pelos bancos, liquidou a pressão especulativa. E é possível que tenha evitado maiores dificuldades para algumas instituições.
Em entrevista à Folha na última sexta-feira, o presidente do BC, Pérsio Arida, disse que "depois das medidas que anunciamos para a manhã de sexta-feira, quando o mercado abriu, a cotação do dólar caiu a quase R$ 0,86. Aí nós entramos comprando a R$ 0,88".
Arida disse que o BC teve que fazer sete leilões de compra. "Isso liquida a pressão especulativa de alta do dólar", comentou.
Como o Banco do Brasil trabalhava com a taxa de R$ 0,863, alguns bancos podem ter adquirido do BB dólares e revendido a preço maior ao BC.

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