São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995![]() |
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Mitterrand defende imposto para conter a especulação A taxa foi proposta pelo Nobel de economia James Tobin CLÓVIS ROSSI
A taxa seria uma maneira de tentar conter a violenta especulação nos mercados financeiros, preocupação central na atual agenda econômica. Mitterrand defendeu o chamado "imposto Tobin" em seu discurso no sábado perante a Cúpula para o Desenvolvimento Social, encerrado ontem em Copenhague. O mandatário francês condenou "um mundo em que a especulação, em poucas horas, pode arruinar o trabalho de milhões de homens e mulheres e ameaçar os resultados de longas negociações como estas". Antes de Mitterrand, também o ministro canadense para o Desenvolvimento de Recursos Humanos, Lloyd Axworthy, chefe da delegação de seu país à Cúpula, havia defendido a taxação. O Canadá ficou de levar a proposta à reunião que os países do G-7 (os mais ricos do mundo) farão no meio do ano em Halifax, no próprio Canadá. Outro dos países desenvolvidos favorável à taxa é a Dinamarca, antecipou seu ministro da Cooperação para o Desenvolvimento, Poul Nielson. Mas os grandes defensores da taxação sobre o movimento de capitais são as agências da ONU (Organização das Nações Unidas). O objetivo delas é arrecadar recursos para financiar programas sociais. Mas a crise financeira global acabou deslocando o eixo da discussão. Agora, o "imposto Tobin" pode servir como tentativa de conter a especulação. Os países latino-americanos que compõem o chamado Grupo do Rio (Brasil inclusive) também vão entrar nessa discussão. Na quinta-feira, seus chanceleres se reúnem com os seus colegas dos 15 países da União Européia, exatamente para discutir propostas a respeito, conforme informou ontem o presidente chileno Eduardo Frei. Para Frei, a instabilidade nos mercados financeiros torna "praticamente impossível a manutenção de políticas estáveis em cada país". O número citado pelo presidente chileno é impressionante: apenas 5% do US$ 1 trilhão que o mercado financeiro movimenta diariamente representa todo o PIB chileno (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional). Por isso, Frei diz que mesmo seu país, com reconhecido equilíbrio fiscal, forte crescimento e estabilidade, acaba sendo afetado pela crise, tal o volume de dinheiro movimentado. "A grande lição da crise mexicana é a de que se deve impor travas à entrada de capital especulativo", afirma Frei. O presidente chileno lembrou que seu país já impõe tais obstáculos, na forma de um depósito no Banco Central e de um prazo para a retirada de capitais. E garante que tais travas não impedem o ingresso de capital produtivo. "Em 1994, o ingresso de investimentos diretos correspondeu a 9% do PIB e segue crescendo", afirmou Frei. O ministro brasileiro da Educação, Paulo Renato Souza, chefe da delegação do Brasil à Cúpula, também seguiu a tônica de Frei em seu discurso oficial. "A instabilidade financeira internacional, motivada por uma enorme massa de capitais financeiros especulativos, que se move com extrema rapidez, valendo-se dos grandes avanços tecnológicos dos últimos 20 anos, confronta-nos com novos desafios", disse Paulo Renato. O ministro, pediu uma reforma nas instituições internacionais, no que ecoou o que o francês Mitterrand dissera na véspera. "As organizações de segurança coletiva —o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional— precisam ser modernizadas para não serem destruídas", disparou Mitterrand. Texto Anterior: Foi 'coincidência', afirma banco Próximo Texto: Interventor do Banespa pede ação criminal Índice |
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