São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Não adianta tocar fogo no sofá

MARCELO CHERTO; MARCUS RIZZO

MARCELO CHERTO E MARCUS RIZZO
O leitor há de se lembrar da velha piada do cara que chega em casa, encontra a mulher no sofá da sala com outro e, de raiva, bota fogo no sofá. Parece incrível, mas tem empresário que toma atitudes bem parecidas.
Uma certa empresa, por exemplo, recentemente publicou anúncio no qual, além de promover certos itens do seu estoque, dizia textualmente que sua franquia, em um dos shoppings paulistanos, já não integra a sua rede "por falta de organização e competência".
Resta indagar: falta de organização e de competência de quem, cara pálida? Afinal, quem escolhe o franqueado não é o franqueador? Quem deveria treinar o franqueado, orientá-lo e supervisioná-lo, não é o franqueador? Ou ainda tem quem acredite que conceder franquias é só autorizar o uso da marca e fornecer produtos para um panaca qualquer montar uma lojinha?
Nunca tivemos contato com o tal franqueador, nem com seu franqueado e, portanto, não estamos aqui para defender ou atacar um ou outro. Nem temos procuração para tanto. Por nós, cada um deles pode muito bem pegar suas brasinhas e ir fazer o seu inferninho onde bem entender. Apenas nos chocou a atitude, parecida com a daqueles pais que criticam o filho por ser mal-educado. Como se a culpa fosse só do filho.
Beth Pimenta, da Água de Cheiro (600 franquias, sem contar as da Arábia Saudita), Aristides Newton, da Localiza (mais de 350 franquias, só no Brasil, fora todos os demais países onde já atua), Marise Louvinson, dos Correios (quase duas mil franquias), e outros integrantes do Conselho Superior de Franqueadores da Franchising University dizem que um dos maiores desafios que os franqueadores brasileiros enfrentam e vão continuar enfrentando até o ano 2000 é fornecer um treinamento de qualidade. Não apenas para seus franqueados. Acima de tudo, para seus próprios dirigentes, executivos e funcionários.
O Franchising não é uma arte, é ciência. Uma ciência não exata, é certo. Mas nem por isso menos ciência. Como tal, precisa ser estudado com profundidade e método. Além de constantemente aperfeiçoado. Como diz nosso guru Salim Mattar, todo franqueador deve estar sempre em busca da excelência, procurando corrigir as próprias falhas e se tornar mais eficiente a cada dia que passa.
Jogar nos franqueados a culpa pelos erros cometidos é como encontrar o filho com febre e quebrar o termômetro.
Assumir as próprias faltas e buscar meios consistentes para saná-las é o primeiro passo para dar a volta por cima. Porém, é preciso ter coragem para fazer isso. Mais do que para dar porrada.

MARCELO CHERTO, diretor da Cherto & Rizzo Franchising, e MARCUS RIZZO, presidente do Instituto Franchising, são professores da FGV e da Franchising University e autores de diversos livros sobre franchising.

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