São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bolívia atrai alunos para curso sem valor

ANTONINA LEMOS; RODRIGO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 700 estudantes brasileiros deixaram o país nos últimos três anos para estudar na Universidade del Valle, em Cochabamba, na Bolívia. A maioria —95%— cursa medicina.
Todos eles correm o risco de não terem seus diplomas aceitos quando voltarem ao Brasil. A universidade existe há seis anos e ainda não formou nenhuma turma de médicos.
A Univalle é particular e cobra no máximo U$ 1.300 por ano, para os cursos de medicina e odontologia. Na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, por exemplo, a anuidade fica em US$ 5.800.
A Univalle oferece 25 cursos e não tem vestibular. Todos os candidatos são admitidos.
Não existe nenhum convênio entre a universidade e o Ministério da Educação do Brasil que garanta que os diplomas sejam validados no país.
Apesar disso, os representantes da universidade no Brasil garantem aos candidatos que eles não terão problemas legais.
Doraci de Lima Nepomuceno, 37, o representante, diz que o aluno fará a legalização do diploma na Bolívia e depois o trará para o Ministério da Educação do Brasil, onde seria legalizado.
Ao se matricular, os candidatos não são avisados de que, de acordo com o Ministério da Educação, esse processo pode incluir novas provas e cursos complementares, ou que a comissão responsável pelas equivalências pode até recusar o aluno.
Para este ano, a Univalle espera receber mais mil estudantes brasileiros. Há cerca de 200 alunos de outras nacionalidades.
Doraci Nepomuceno trabalha com sua irmã Francisca Xavier. Ela faz contato com os estudantes em Mogi das Cruzes (SP) e Nepomuceno os recebe em Cochabamba, onde inaugurou uma lanchonete, "com coxinhas e pastéis". A cidade tem 377 mil habitantes e é a terceira do país.
A Univalle é divulgada em panfletos e anúncios em jornais que destacam o fato de não haver vestibular e omitem o problema da validação do diploma. A maioria dos brasileiros que estudam em Cochabamba é de Rondônia e interior paulista.

Texto Anterior: CARTAS
Próximo Texto: 'Exilados' fogem do vestibular
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.