São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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DEZ SONS EM DEZ ANOS

DA "SPIN"

NIRVANA
Em 1990, um single chamado "Sliver/Dive" circulou entre colecionadores e DJs de universidades. "Dive" era profética. Gravada na primeira sessão de estúdio da banda, a música trazia riffs típicos do grupo. "Dive, dive, dive in me" (mergulhe, mergulhe, mergulhe em mim) era o refrão. Será que Kurt Cobain já sabia que todos mergulharíamos?
O Nirvana poderia ter transitado para sempre do mais obscuro undergroung para as milhões de cópias vendidas. Tudo porque a personalidade fragmentada de Kurt Cobain fazia o elo. Para o melhor ou pior, nunca será suficiente.

MADONNA
Quando se fala sobre Madonna, se deixa de lado é justamente o que ela faz melhor: música.
Já em 1985, muitos ouvintes não conseguiam curtir a alegria de "Material Girl" porque se deixavam distrair pela imagem ameaçadora de louca por dinheiro —imagem equivocada da qual ela nunca conseguiu escapar.
Sua carreira se definiu pela maneira como ela cobre a distância entre cult disco e pop. Todos seus sucessos têm o selo inesquecível: "Preste atenção em mim. Lembre-se de mim. Me ame".

PUBLIC ENEMY
Por um minuto, em Nova York no final dos anos 80, o hip hop foi rock'n'roll. Foi quando o Public Enemy exigia o mundo e ousava redirecionar as prioridades da cultura pop. O PE mostrou que a política de identidade do hip hop tinha potencial revolucionário e convenceu uma geração de teens que era cool estudar as contradições racistas de uma sociedade capitalista.
Sua influência mais duradoura talvez seja mesmo a musical. O resultado é uma obra-prima pop.

R.E.M.
Em 13 anos de carreira, o R.E.M. trabalha a confusão estética.
A banda ensinou as pessoas a ver através da máquina pop, a pensar em vez de acreditar. Isso é bem melhor como modelo do que vestir a popularidade como camiseta e açoitar-se no mercado. Está na hora de perder a inocência, pessoal.

PRINCE
Hoje em dia talvez seja tentador sentir pena de Prince. Depois de 16 álbuns, ele já deixou de ser visto como o futuro do rock-encontra -o-soul. Sua carreira no cinema acabou. Ele lutou com o hip hop e perdeu. Namorou Kim Basinger e a perdeu. Não será o superastro mais excêntrico até Michael Jackson entrar num mosteiro.
Mas quando ele ousadamente fundiu tudo para criar aquele som festeiro milenar patenteado, no início dos anos 80, abriu os parâmetros do pop a marteladas.

HUSKER DU
Husker Du não soava exatamente como banda punk, mas também não soava como qualquer outra coisa. Sua estreiteza acabou por influenciar uma enorme gama de bandas subsequentes. Husker Du era aquela banda rara em que dois compositores diferentes e talentosos competiam em harmonia.
Nesta época pós-Nirvana, de manter independência artística na fama, é importante que o Husker Du seja lembrado.

GUNS N'ROSES
O GNR me surpreendeu em 1987 só por serem jovens punks que não tinham medo de cantar e dançar. Eles devolviam ao rock energia. Axl Rose não consegue ficar num só lugar por muito tempo. Seu pai o expulsa de casa por ter cabelo comprido. Axl ainda sente saudades de grama verdinha e garotas bonitas. Ele gosta de metáforas "Jardim do Éden".

DR. DRE
Durante os úlitmos dez anos, o hip hop trouxe a violência das ruas para o coração da música. Dre ficou famoso em 1989, como membro do N.W.A., o grupo que colocou o gangsta rap no mapa. Alguns dizem que o reinado de Frank Sinatra simbolizava a confiança dos EUA em dominar o mundo. O reinado de Dre é o colapso das bobagens sentimentais americanas.

U2
O U2 apareceu nos anos 80, depois que o punk mostrou que não eram só as guitarras que valiam a pena. Seu vocalista tinha noções malucas sobre sobre como projetar sua voz. O U2 fez o que os grandes fazem: transformações.
Começaram como quatro jovens irlandeses ligados no formalismo europeu. Por sete anos, o U2 introduziu novas e velhas palavras nessa mentalidade. O U2 não teve medo de nada. Dúvidas e confusões sobre o U2 persistiram. O resultado foi música brilhante e sensibilidade surpreendente.

PERRY FARREL
O melhor sobre Perry Farrell para alguns, significa o pior para outros: sua presunção. Não presunção no sentido de ser afetado, mas de exigir habilidade, capacidade e jeito. Farrell aspira coisas. Não obtém tudo o que quer.
O Lollapalloza tem, no mínimo, o mérito de mostrar bandas novas ao mundo. Isso é bastante.

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