São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995![]() |
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Ballet Kirov dança tradição russa no Brasil
ANA FRANCISCA PONZIO
A temporada será em maio, no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde o Kirov se apresenta dias 15, 16 e 17 no Teatro Municipal. É o empresário Dante Viggiani o responsável por esta visita do grupo à América do Sul, que inclui somente o Brasil. Patrimônio mundial, o Kirov é sinônimo de dança clássica. Foi no Kirov que surgiu o estilo russo, criado por uma mestra legendária: Agrippina Vaganova (1879-1951), que formou mitos como Galina Ulanova. Berço de Anna Pavlova, Nureyev, Natalia Makarova e Baryshnikov, o Kirov está acima do Ballet Bolshoi em matéria de refinamento artístico. Suas bailarinas são famosas pela fluidez de movimentos, principalmente dos braços, linhas perfeitas e poder de elevação no ar. Entre as qualidades do elenco masculino está a facilidade para os grandes saltos —detalhe que o balé "O Corsário" explora ao máximo, fazendo o público vibrar. Resta conferir, na temporada brasileira, se o Kirov está mantendo a boa forma em meio às crises sócio-políticas enfrentadas pela Rússia. Seu diretor atual, Oleg Vinogradov, tido como conservador, parece ter preservado os valores acadêmicos em detrimento de renovações. No entanto, o Kirov ainda é um mito —tanto para o público quanto para bailarinos de outras nacionalidades que, quando convidados para dançar com o grupo, passam a guardar na memória um momento especial. As raízes do Kirov remontam ao ano de 1738, quando um mestre francês, Jean-Baptiste Landé, fundou uma escola de balé na cidade de São Petersburgo. A tradição histórica do Kirov começou quando a imperatriz Catarina, a Grande, incomodada com o brilho da corte vienense, cujo trono era ocupado por Maria Theresa, resolveu transformar São Petersburgo na capital cultural da Rússia. Com Catarina surgiu o elenco de balé e sua sede, o Teatro Maryinsky —nome que foi resgatado recentemente, depois de atravessar este século como Kirov. Filha de Paulo 1º, Catarina havia estudado dança em Londres com o bailarino, coreógrafo e professor Charles Louis Didelot, discípulo de dois precursores do balé, Noverre e Auguste Vestris. Levado para o Maryinsky por Catarina, Didelot produziu cerca de 40 espetáculos ao longo de 30 anos. A mitologia era seu tema principal. No Maryinsky surgiram balés eternos, como "Quebra-Nozes", "A Bela Adormecida" e "La Bayadère". Nos primeiros anos deste século, o palco do Maryinsky também foi o primeiro tablado onde pisou outro gênio do Kirov: Vaslav Nijinsky. Não demorou muito para um dos membros do Conselho do Teatro, o empresário Serge Diaghlev, descobrir Nijinsky e mais tarde Balanchine, outro integrante do Maryinsky-Kirov, que desenvolveria o balé nos Estados Unidos. Mesmo na era comunista o Ballet Kirov conseguiu preservar sua herança clássica, sobrevivendo ao nacionalismo artístico da época. Rendendo-se à tradição do Kirov, Lenin compreendeu que a cultura do proletariado não poderia se impor a uma instituição formada por gerações de grandes talentos. Próximo Texto: Companhia preserva repertório clássico Índice |
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