São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Crise mexicana já afeta o seu cinema

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE GUADALAJARA

A 10ª Mostra de Cinema Mexicano em Guadalajara foi inaugurada na noite da última sexta-feira sob o signo da crise econômica e moral que abala o país de "los perfumados" (designação pejorativa para os "yuppies" perdulários do México).
O festival, armado principalmente para atrair distribuidores e organizadores de festivais internacionais, prossegue até o próximo domingo. Serão mostrados 16 novos longas e 11 curtas.
Uma discreta produção como esta tem se mostrado suficiente para anualmente conquistar novas platéias, no México e no exterior. "Mas o nosso futuro é negro", disse Mario Aguinaga, 52, o diretor da Mostra de Guadalajara e recém-empossado diretor da cinematografia mexicana, nesta entrevista à Folha.

Folha - Qual o futuro do cinema mexicano com esta crise econômica?
Mario Aguinaga - Estamos remando contra a corrente. Agora mesmo acabo de saber que somente cinco filmes poderão ser subvencionados este ano. O cinema está vivendo uma crise mundial, que não é só mexicana. A indústria do cinema é rentável só para os americanos.
Folha - A que você atribui o sucesso dos últimos anos do cinema mexicano?
Aguinaga - No México sempre devemos pensar em ciclos de seis anos, que é o nosso ciclo presidencial. Se por um lado neste último ciclo de seis anos o Instituto Nacional de Cinematografia soube valorizar e prestigiar novos talentos, tivemos a infeliz coincidência de ter a decadência dos cinemas brasileiro, argentino, cubano e de toda a América Latina.
O surgimento da Mostra de Guadalajara foi também uma plataforma bem aproveitada pelo cinema mexicano. Tivemos casos excepcionais, como o filme de Alfonso Arau "Como Água para Chocolate", mas o princípio básico foi acreditar em novos talentos.
Folha - E o que será agora dos novos talentos?
Aguinaga - O cinema independente cresceu muito e descobriu os mecanismos da co-produção, com o exterior e com a Televicine, um novo departamento da poderosa rede Televisa. A Televicine apresenta aqui em Guadalajara seus dois primeiros longas: "Tres Minutos en la Oscuridad", de Pablo Gómez Sáenz, e "Sin Remitente", de Carlos Carrera.
Se estes dois filmes fizerem sucesso estaremos abrindo um importante canal de co-produção com a televisão mexicana. Afinal, existem três grandes poderes na mídia televisiva mundial: Berlusconi, a Rede Globo e a Televisa. Se eles quiserem ajudar muita gente deixará de falar em crise no cinema.

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