São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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FHC decide ser ele mesmo o coordenador do governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso resiste à pressão de seus aliados no Congresso e insiste em assumir pessoalmente o papel de articulador político do governo.
Ele vai receber parlamentares em jantares e almoços para resolver problemas no varejo.
FHC não abre mão de cuidar sozinho da articulação política. Ele se nega a indicar um coordenador que o represente: "Me digam o nome de um homem que resolva todos os problemas que eu indico", afirmou o presidente a lideranças no Congresso.
No esforço para conter a rebelião da base governista, que ameaça a aprovação das reformas constitucionais, Fhc decidiu reservar boa parte da sua agenda para conversas com políticos. Em alguns destes encontros, vai receber indicações para cargos federais.
No primeiro jantar, marcado para amanhã, ele recebe justamente os senadores que mais têm criticado o governo, como o líder do PMDB, Jáder Barbalho (PA), Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Roberto Requião (PMDB-PR).
Integram o grupo o presidente do Senado, José Sarney (AP), o líder do governo, Élcio Álvares (PFL-ES), o presidente em exercício do PSDB, Artur da Távola (RJ), Gilberto Miranda (PMDB-AM) e Josaphat Marinho (PFL-BA). O próximo encontro será um almoço com os três senadores do Tocantins, Carlos Patrocínio (PFL), João Rocha (PFL) e Leomar Quintanilha (PPR). Eles estão reclamando do preenchimento de cargos de segundo escalão pelo PSDB do Estado.
FHC dá uma guinada nos rumos políticos do governo e abandona a intenção inicial de manter um relacionamento exclusivamente "institucional" com os partidos políticos aliados. Depois de dois meses de mandato, ficou evidente o fracasso da estratégia. Os líderes dos principais partidos de sustentação do Planalto exigem a figura de um articulador único, com acesso direto ao presidente e com autoridade junto aos aliados.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), defende que FHC delegue a um articulador a tarefa de receber os parlamentares. Segundo o perfil traçado por Inocêncio, o articulador deve ter o "status de ministro". Sugeriu até um nome para o novo cargo: ministro extraordinário da Articulação Política.
A falta de um articulador também é criticada pelo líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP). Ele lembra que a função já foi exercida pelos ministros da Justiça ou da Casa Civil.
O PMDB e o PFL —os dois maiores partidos da base governista e do Congresso— consideram que o Conselho Político criado por FHC não funciona como órgão de coordenação política porque está muito ampliado. Fazem parte do Conselho os presidentes e líderes dos seis partidos aliados.
O esquema de articulação política do governo foi posto em xeque depois das derrotas que FHC sofreu na semana passada no Congresso. A mais grave delas foi a aprovação pelo Senado do projeto que regulamenta o tabelamento dos juros em 12% ao ano, atropelando a política econômica.
Nos últimos dias, os aliados manifestaram resistências às propostas de emendas constitucionais apresentadas por FHC. O PMDB, por exemplo, decidiu analisar com cautela a abertura da economia e a quebra dos monopólios. O PSDB questiona os números da crise da Previdência.

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