São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Indústria tem previsão de desaquecimento

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A euforia das empresas paulistas está chegando ao fim. A alta dos juros que acompanhou a desvalorização do real na semana passada mudou o cenário de manutenção ou crescimento da atividade econômica nos próximos meses.
A aposta agora recai sobre a diminuição da produção e das vendas —e, paradoxalmente, com eventuais pressões sobre preços.
"A nova conjuntura implica em desaquecimento a curto prazo, especialmente no setor de bens de consumo duráveis", diz Luiz Fernando Furlan, presidente da Sadia.
"A época agora é de recessão. Até o final de março, as empresas ainda vão manter o 'embalo' de janeiro e fevereiro. Depois, o mercado vai cair", afirma Sérgio Haberfeld, presidente da Toga.
Os negócios da Toga, que lidera o setor de embalagens flexíveis, são termômetro de atividade. "Será um milagre se o crescimento do PIB este ano chegar a 3%."
Para Horácio Lafer Piva, diretor do Departamento de Pesquisas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o juro alto "é fator de constrangimento",
A expectativa dos empresários que participaram ontem da reunião semanal da Fiesp jogou água fria no otimismo que predominava até antes da semana passada.
Pesquisa realizada pela Fiesp com 410 indústrias do Estado entre os dias 1º e 3 de março apontava para, na pior da hipóteses, a manutenção da demanda e da atividade industrial.
Todo este esforço seria para atender a demanda existente —já que 40% das empresas apontavam dificuldades em cumprir todos os pedidos de seus clientes.
Os setores espalhados nestes 40% da pesquisa (celulose, químico, autopeças etc.) podem pressionar os preços a curto prazo. "Juros mais altos em setores que estavam se financiando para produzir mais significam custos maiores, que podem ser repassados aos preços", diz Piva.
Nesta situação podem estar também cerca de 210 empresas (das 410) que vinham trabalhando a 100% da capacidade de produção desde o início de janeiro.
A mudança no câmbio também pressiona empresas que usam matérias-primas importadas.
Contramão
Mas há dois fatores na contramão da expectativa de desaquecimento: aumentos salariais e exportações -que receberam alento com a desvalorização do real.
Nas próximas semanas, funcionários públicos e metalúrgicos devem receber reajustes salariais e existe a promessa do salário mínimo de R$ 100.
Nas exportações, empresas como a Sadia já pensam em retomar linhas desativadas em consequência da defasagem cambial. Segundo o presidente da Sadia, a companhia já pensa em rever sua expectativa de queda de 15% nas vendas externas este ano.

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