São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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PT quer auditoria sobre os "dealers"

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

As bancadas do PT (Partido dos Trabalhadores) na Câmara e no Senado deverão formalizar hoje um pedido de auditoria sobre as relações entre o BC (Banco Central) e instituições do sistema financeiro que atuam em nome do banco oficial ("dealers").
A iniciativa foi anunciada ontem, em São Paulo, pelo presidente nacional do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, após reunião com dirigentes da Executiva Nacional.
Lula afirmou "que em qualquer país civilizado" ex-diretores do BC estariam impedidos de dirigirem bancos tão logo deixam o serviço público.
Outra representação
O deputado federal Luiz Gushiken (PT-SP) pretende entrar com representação junto à Procuradoria da República para que sejam interpelados o presidente do BC, Pérsio Arida, e os diretores Gustavo Franco e Alkimar Moura.
O deputado também vai propor à Comissão de Tributação da Câmara Federal a convocação dos diretores do BC. Quer que eles esclareçam como funcionou o Sistema de Informações do Banco Central (Sisbacen) na semana passada e por que determinadas informações ao mercado foram passadas por telefone.
Gushiken também pretende requerer ao Ministério da Fazenda informações sobre operações realizadas na semana passada pelo Banco do Brasil com bancos privados no mercado de câmbio.
Três caminhos
O economista Aloizio Mercadante, vice-presidente nacional do PT, disse por sua vez que a auditoria poderia se viabilizar por três caminhos diferentes:
1 - Por meio de uma representação ao Ministério Público, que as duas bancadas petistas no Congresso pretende redigir ainda hoje.
2 - Por meio do TCU (Tribunal de Contas da União), que seria acionado pela Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara.
3 - No quadro de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), por cuja instalação os deputados e senadores petistas se movimentam desde o final da semana passada.
"O BC foi irresponsável e incompetente, e isso trouxe um grande prejuízo ao país", afirmou Mercadante.
Embora se declare favorável ao sistema de bandas para a variação da taxa cambial, disse que o modelo de estabilização econômica "atravessa momentos difíceis em razão da incapacidade do governo de preservar suas reservas".
O diagnóstico que ele fez à reunião da Executiva petista é de que a estabilização da moeda Argentina "está com os dias contados", pois o modelo local está sendo artificialmente mantido até a eleição presidencial de 14 de maio.
Com a implosão argentina, as pressões se deslocariam para o Brasil, onde o governo —prossegue o dirigente petista— "tem queimado reservas na importação de produtos supérfluos e, ao aumentar os juros, aumenta a dívida interna e assim torna ainda mais difícil o equilíbrio fiscal".
O deputado Jaques Wagner (PT-BA), líder da bancada na Câmara, afirmou que "a tempestade da última semana" reforçou a convicção de seu partido de que é preciso manter o Estado economicamente forte, pela preservação dos monopólios do petróleo e das telecomunicações.
Pedido de informações
Por sua vez, o deputado Cunha Bueno (PPR-SP) apresentou ontem à Câmara dos Deputados requerimento em que solicita ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, informações ao BC sobre os critérios para credenciamento de "dealers" e a lista das instituições credenciadas no dia 2 de janeiro.
Bueno quer saber se houve descredenciamento de alguma instituição e se foram abertos inquéritos ou procedimentos administrativos para apurar responsabilidade de algum desses "dealers" descredenciados, relativamente à atuação dos mesmos no mercado de câmbio na semana passada.
O deputado requereu a relação completa dos compradores e vendedores de dólar no período de 15 de fevereiro até a data de expedição do ofício à Fazenda.

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