São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Malan acena com restrições aos derivativos

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, acenou ontem em São Paulo com a possibilidade de medidas de restrição às operações nos mercados derivativos das Bolsas de Valores e de Mercadorias & Futuros, "caso o governo fique convencido que as Bolsas são incapazes de exercer o seu poder auto-regulador".
Malan ressalvou que "o governo confia na capacidade de auto-regulação das Bolsas", citando como um bom exemplo a suspensão de 28 operadores pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) na véspera do Carnaval.
O ministro esquivou-se de confirmar se o governo tinha detectado nos mercados derivativos o principal palco do "ataque especulativo contra o real" na semana passada, quando a BM&F negociou volumes recordes com contratos futuros de taxas de juros (DI) e dólar.
Segundo a Folha apurou, entre terça-feira e quinta da semana passada, muitos bancos realizaram a seguinte operação de arbitragem, pressionando para cima o dólar no mercado à vista e as taxas de juros no mercado futuro: compraram a moeda norte-americana no mercado à vista ("spot") e venderam contratos futuros de DI e de dólar na BM&F.
Durante entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirantes, após reunião com o governador Mário Covas e os secretários estaduais da Fazenda, Yoshiaki Nakano, e do Planejamento, André Franco Montoro Filho, Malan disse que "o ataque especulativo contra o real, principalmente na quinta-feira passada, já foi totalmente superado com a atitude firme do Banco Central".
Ele informou que o presidente do BC, Pérsio Arida, havia descredenciado um "dealer" (banco que opera para o BC no mercado) —sem mencionar o nome do Banco Safra, apontado pelo mercado— já na sexta-feira e disse que outros poderão receber a mesma punição se ficar comprovado que "não seguiram padrões de comportamento que se espera de um 'dealer"'.
Ao ser indagado se o governo pretende adotar novas medidas no mercado de câmbio para impedir movimentos especulativos semelhantes aos que ocorreram na semana passada, Malan respondeu: "Estamos caminhando nessa direção".
Depois de mencionar a redução de US$ 50 milhões para US$ 5 milhões no volume de "posição comprada" de cada banco como medidas na direção da retirada de munição do mercado financeiro para especular contra o real, Malan apontou possíveis restrições nos mercados derivativos como medidas que poderão ser adotadas.
"São apostas especulativas que estão ocorrendo no mercado mundial, que não têm base no mundo real da economia", disse.
Ele acrescentou que a tendência dos bancos centrais em todo o mundo é de impor restrições ao crescimento dos riscos decorrentes dessas operações. Como exemplo, mencionou a quebra do grupo financeiro inglês Barings, por causa de prejuízos com apostas erradas com derivativos no mercado de Cingapura.

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