São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Não leio Cony; Quem não se comunica...; Estereótipos; "Mulherzinha metida a gente";

Não leio Cony
"Uma amiga manifestou-me no sábado sua indignação contra os artigos que Carlos Heitor Cony tem dirigido contra mim. Ataques pessoais, deselegantes, irritados. E perguntou-me por que não respondia. Expliquei-lhe que não respondera porque, embora leitor diário da Folha, não leio sua coluna. Quando esse senhor substituiu Otto Lara Resende na coluna do Rio de Janeiro, li alguns artigos. A qualidade do texto era tão deficiente, e a forma de ver o mundo e as coisas tão pequenas, que não li mais. É realmente surpreendente que um jornal que conta com colunistas do mais alto nível, como Antônio Callado, Arnaldo Jabor, Carlos Alberto Sardenberg, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein, Janio de Freitas, Luís Nassif, Marcelo Coelho, Sérgio Augusto, além de uma plêiade de jovens jornalistas críticos e provocadores liderados por Otavio Frias Filho, tenha no Rio de Janeiro um representante desse nível. Continuarei a não lê-lo."
Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração (São Paulo, SP)

Quem não se comunica...
"Em entrevista à Folha, no domingo, Pérsio Arida afirma que não faz sentido um problema de comunicação gerar um ataque especulativo contra o Banco Central. Como ex-publicitário e agora economista ocupando um cargo de reflexos diretos na economia, Arida deveria saber que com os especuladores é preciso ser hábil quando se trata de emitir informações financeiras."
Maurício Cheli (Curitiba, PR)

Estereótipos
"Leio com atenção os artigos de Marilene Felinto. Talvez sua musa seja a Camille Paglia, o que seria de todo deplorável. Acho que, como eu, as pessoas estão cansadas de estereótipos, compreensíveis na boca de pessoas amarguradas, desiludidas, coitadinhas! Afirmar que mulheres são mais burras, ou que os 'homens querem sexo: sexo três vezes ao dia, de preferência com três mulheres diferentes', Marilene, é muito cansativo. De onde você tira suas conclusões? Do 'livre pensar é só pensar'? Por favor, ajude a todos a terem informações interessantes, uma vez que dispõe de belo espaço. Aproveite-o. Nós, leitores, agradecemos. Conhecemos homens leais, inteligentes, bons pais, simples e respeitáveis. O mesmo para mulheres, ou você duvida?"
Irede Cardoso (São Paulo, SP)

Resposta da articulista Marilene Felinto — A sra. Irede Cardoso não leu direito, ou com a atenção que propaga, meus textos. Não sou eu quem diz que os homens querem sexo, são eles próprios, conforme artigo meu. Do mesmo modo, eu não disse que as mulheres são burras, mas talvez devesse ter dito que algumas são. Em tempo: não tenho nem preciso de musas.

"Mulherzinha metida a gente"
"Dimenstein, você que vem denunciando com tanto vigor a violência contra crianças e adolescentes, por favor, anota esta. Avaré, noite de 10/03, restaurante Avenida. Um menino de no máximo 16 anos, desarmado, mas bêbado, tenta entrar para tomar um café. O dono do restaurante, Helio Pimentel, impede com truculência, empurrando e ofendendo o garoto, que por sua vez responde. Para evitar que o quiproquó aumente, pessoas presentes e o próprio grupo do jovem providenciam uma retirada pacífica. E tudo está para entrar nos eixos quando, desabalado no calçadão, estaciona um carro de polícia, de onde saltam cinco homens armados de revólveres e cacetetes. A um sinal de Helio os guardas cercam o menino enquanto ouvem a falsa denúncia de invasão e vão atirá-lo no interior do veículo, mas desminto Pimentel para o comandante da tropa, alertando-o de que aquela prisão seria ilegal, incompassiva e absurda. O policial concorda, tira o time, e o garoto segue seu rumo. Aí chega a minha vez: revoltado com a retirada da polícia e a impunidade de seu 'ofensor', Helio Pimentel me chama de puta pra baixo, me expulsa aos berros de seu indefectível estabelecimento, afirmando que não teme a lei muito menos a imprensa e chamando uma espécie de assessor ou jagunço que, muito mais bêbado do que o menino, faz menção de me dar um soco caso eu não desapareça imediatamente. Não contente, desafia a hierarquia de poderes da República moderna, a ordem federativa e mesmo a concordância gramatical com uma frase que faço questão de registrar para a sua reflexão, Dimenstein. E para quem mais puder ver, sob tais palavras, a sombra de uma visão criminosa de vida que insiste em ver o jovem, o idoso e a mulher como coisa ou gado, e que não se confina ao coronelato nordestino ou a um restrito tempo da história do país. 'Aqui em Avaré não tem essa merda de direitos humanos e de mulherzinha metida a gente. Aqui nós faz a lei e resolve no braço ousadia de bêbado e puta'."
Consuelo de Castro, dramaturga (São Paulo, SP)

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