São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 1995
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Tratamento dialítico do paciente renal crônico

HORÁCIO AJZEN; RICARDO DE CASTRO SESSO

HORÁCIO AJZEN
RICARDO DE CASTRO SESSO
Doenças renais primárias ou secundárias causam insuficiência renal crônica terminal (IRCT). Cerca de 80% dos pacientes com IRCT estão em tratamento dialítico, enquanto que 20% têm enxerto renal funcionante.
Estima-se que haja atualmente cerca de 23 mil pacientes em diálise no Brasil. No Estado de São Paulo, há cerca de 8.200 pacientes em diálise, sendo que metade se localiza na Grande São Paulo. Setenta e nove por cento destes pacientes estão em hemodiálise (HD), 15% em diálise peritoneal crônica ambulatorial (CAPD) e 6% em diálise peritoneal intermitente (DPI).
O custo anual ao governo para prover este tratamento em todo o país é de aproximadamente US$ 250 milhões (em torno de US$ 11 mil por paciente por ano), sendo de US$ 85 milhões apenas em São Paulo. A título de comparação, nos EUA, em 1991, havia 183.372 pacientes em diálise e o governo gastava US$ 8,6 bilhões por ano (em torno US$ 50 mil/paciente/ano).
Nossas estimativas mostram que a incidência de casos novos aceitos para tratamento no ano de 1991 em São Paulo foi de 83 por milhão da população (pmp), ou seja, um paciente para cada 12 mil habitantes. Cerca de um terço dos pacientes novos em tratamento tem mais de 60 anos de idade.
Há indícios de que mais de 25% dos pacientes com IRCT que necessitariam de tratamento dialítico em São Paulo não chegam a ser aceitos em programas de diálise por motivos relacionados ao não-diagnóstico de IRCT em tempo oportuno, a falta de vagas nos centros de diálise existentes e a carência de centros de diálise.
Por exemplo, em Itaquera há apenas duas unidades para servir a uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. Considerando que a incidência de casos novos aceitos para tratamento seria pelo menos igual à de 1991, somente na área de Itaquera teríamos 166 novos pacientes que deveriam iniciar tratamento dialítico em 1994.
Durante o tratamento dialítico, as causas de óbito destes pacientes estão relacionadas a doenças cardíacas (30%), cérebro-vasculares (21%), infecções (22%), neoplasia (3%) ou a causas desconhecidas (24%). Em 1991, no município de São Paulo houve 537 óbitos em pacientes em diálise e 545 óbitos de indivíduos com causa básica de óbito relacionada a insuficiência renal crônica, os quais não receberam tratamento dialítico.
Os recentes óbitos de pacientes durante tratamento dialítico são um alerta para a maior atenção que deve ser prestada a este tratamento em nosso meio. Não devemos apontar culpados. Não há dúvidas de que ocorreu uma fatalidade, totalmente não-intencional e que pode ocorrer ou que ocorre em uma unidade de diálise, decorrente de problemas que necessitam ser discutidos e resolvidos para que pacientes tenham o melhor atendimento possível. Alguns destes problemas que devem ser enfrentados por toda a coletividade são:
1) Encaminhamento tardio. 2) Qualificação do pessoal. 3) Baixa remuneração de pessoal médico e paramédico. 4) Más condições do equipamento. 5) Carência de credenciamento de novos centros de diálise.
As distorções acima necessitam ser solucionadas, mesmo levando-se em consideração que a diálise é um procedimento de alta tecnologia e de elevado custo, num país como o nosso, com limitados recursos econômicos destinados à área de saúde.

HORÁCIO AJZEN, 65, é professor-titular e chefe da disciplina de nefrologia e coordenador do Curso de pós-graduação em nefrologia da Escola Paulista de Medicina.
RICARDO DE CASTRO C. SESSO, 39, é professor-adjunto de nefrologia da Escola Paulista de Medicina.

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