São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 1995
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Crise ruiu imagem de oásis de estabilidade

CLÁUDIO GARON
DA REDAÇÃO

A crise econômica e política acabou com a imagem do México como um oásis de estabilidade e exemplo a ser seguido pelos seus vizinhos na América Latina.
O ano passado, que prometia ser o do apogeu econômico e político do país e do presidente Carlos Salinas de Gortari, assistiu ao início da crise que se espalhou por vários países da América Latina e ameaça até o Primeiro Mundo.
Em 1º de janeiro, a revolta do até então desconhecido EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) empanou a inauguração do Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio).
Os guerrilheiros ocuparam cidades no Estado de Chiapas (sul). Na repressão que se seguiu, a imagem do país como um dos poucos da América Latina onde direitos humanos eram respeitados ruiu.
O Exército foi acusado de tortura, mas conseguiu levar os guerrilheiros de volta para a floresta, onde um impasse militar parecia garantir uma certa paz armada.
Em março foi assassinado a tiros o candidato governista à Presidência Luis Donaldo Colosio na cidade de Tijuana.
Essa morte anuviou a perspectiva da primeira eleição verdadeiramente livre desde que o PRI (Partido Revolucionário Institucional) chegou ao poder em 1929.
Na eleição de agosto, confirmou-se o favoritismo do PRI e de seu novo candidato, Ernesto Zedillo Ponce de León, inflado pela própria morte de Colosio.
Em 28 de setembro, morreu assassinado o secretário-geral do PRI e líder do partido na Câmara, José Francisco Ruiz Massieu.
Os assassinatos foram creditados a setores do PRI, avessos às mudanças implementadas por Salinas e Zedillo, ou a narcotraficantes insatisfeitos com a repressão.
'Efeito Zedillo' às avessas
Em 27 de agosto, a Câmara de Comércio Americana previa um aumento de 100% nos investimentos estrangeiros no México: o "efeito Zedillo".
Menos de quatro meses depois, uma desastrada desvalorização do peso degenerou numa crise financeira cujas consequências ameaçam até Brasil e Argentina.
Investidores tiraram bilhões de dólares do México e o governo Zedillo lançou a responsabilidade sobre a administração anterior.
Salinas teria escondido o volume das reservas mexicanas e mantido o câmbio artificialmente alto para facilitar as importações.
Se não bastasse a crise econômica, Zedillo tentou conquistar a opinião pública com um cerco aos zapatistas em 9 de fevereiro.
A impossibilidade de localizar os zapatistas em meio à selva do sul obrigou o governo a recuar e reiniciar as negociações.
Para piorar as coisas, em 28 de fevereiro foi preso Raúl Salinas de Gortari, irmão do ex-presidente, sob a acusação de envolvimento no assassinato de Ruiz Massieu.
Mario Ruiz Massieu, irmão do político assassinado, foi interrogado sobre suposto acobertamento da participação de Raúl Salinas.
Depois do interrogatório, foi para os EUA, onde foi preso com uma mala de dólares tentando ir à Espanha sob nome falso.
Já Carlos Salinas ameaçou uma greve de fome e foi inocentado das acusações de envolvimento no assassinato de Colosio.
Seu irmão segue preso, indiciado sob a acusação de envolvimento no assassinato de Ruiz Massieu.

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