São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Sindicalistas e estudantes protestam contra presidente

AZIZ FILHO; SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DO RIO

SILVANA DE FREITAS
O presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentou ontem, no centro do Rio de Janeiro, a primeira grande manifestação de protesto contra seu governo.
Um ato de sindicalistas e estudantes acabou em confronto com a PE (Polícia do Exército).
Pelo menos cinco pessoas foram feridas com pedras e estilhaços de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
Depois de ser vaiado pelos manifestantes, FHC atribuiu o protesto a "grupos de derrotados" nas eleições. "Eles perderam as eleições, estão com o germe do atraso na cabeça e querem ganhar no grito. Entraram em desespero e perderam o juízo também."
O presidente disse esperar o protesto. "Essa gente é um pequeno grupo que anda por toda parte do Brasil."
FHC chegou às 11h25 ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) para o lançamento da campanha "Acorda Brasil. Está na hora da escola".
Ao descer do ônibus presidencial, sob vaias, sorriu e acenou para os cerca de 500 (segundo a Polícia Militar) ou 3.000 manifestantes (segundo os sindicalistas).
Às 11h10, chegaram cerca de 30 soldados da PE, reforçando o cordão de isolamento da PM (Polícia Militar), que tinha 120 homens no local.
A manifestação não teve um comando único. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) convocou seus militantes, segundo a direção regional, para reforçar atos marcados por estudantes e contratados da FNS (Fundação Nacional de Saúde).
A UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) protestavam contra a falta de controle sobre as mensalidades escolares e a intenção do governo de adotar testes de avaliação para recém-formados.
O Sindicato dos Trabalhadores Contratados do Estado do Rio de Janeiro protestava contra o fim do contrato do governo com 6.080 funcionários que combatem endemias (doenças que existem constantemente em alguns lugares, como o dengue).
Os bancários estavam contra a possível privatização dos bancos estaduais. Metalúrgicos pediam verbas para a indústria naval.
Oradores criticaram o salário mínimo de R$ 70, as reformas constitucionais e o almoço que FHC teria com o ex-presidente Ernesto Geisel. Havia bandeiras do PC do B e do PSTU.
O confronto começou quando FHC deixou o CCBB, às 12h40, pela porta principal, protegido pelo cordão de isolamento.
Quando a comitiva saiu pela lateral do centro cultural, cerca de cem estudantes correram à travessa Tocantins para alcançar FHC. Os sindicalistas aderiram. Na travessa, os manifestantes derrubaram uma moto da PE. Os soldados fizeram um cordão de isolamento para empurrar os manifestantes de volta, com escudos e cassetetes.

Tumulto
Ao chegar à rua 1º de Março, os manifestantes atiraram pedras nos soldados, que usaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, dando pelo menos dois tiros para o alto.
O confronto acabou às 12h58, quando a PE deixou o local. A PM assumiu a situação e não reagiu aos manifestantes.
Os manifestantes atribuíram a atiradores de elite do Exército o disparo de tiros do segundo andar do prédio do CCBB.
Entre os manifestantes, estava o deputado Jair Bolsonaro (PPR- RJ). Ele subiu no carro de som e disse: "Infelizmente, por ordens superiores, vocês (soldados da Polícia do Exército) estão dando proteção a um presidente imoral".
O coronel Ivan Cardozo, porta-voz do Comando Militar do Leste, disse que a ação do Exército foi necessária "para evitar que houvesse comprometimento da segurança do presidente".
Às 17h, FHC retornou ao centro do Rio para a inauguração do centro cultural da Light. Ao chegar, encontrou uma manifestação de 15 servidores da estatal.

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