São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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FHC elogia São Paulo, Covas e os paulistas

WILLIAM FRANÇA; FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso, 63, fez ontem uma apologia a São Paulo e aos paulistas, ao inaugurar nova ala do Hospital da Beneficência Portuguesa.
Dois dias depois dos incidentes em que foi hostilizado no Rio, FHC —que é carioca—, disse que São Paulo era a sua cidade pois tinha "espírito pioneiro e solidário".
FHC citou São Paulo em cinco oportunidades, durante cerca de dez minutos de discurso. Em todas fez grandes elogios e ainda aproveitou para enaltecer a administração do governador Mário Covas, seu companheiro de PSDB.
"Se estou hoje (ontem) na minha cidade de São Paulo não é simplesmente porque é a minha cidade, mas é porque hoje eu sinto esse espírito em São Paulo e apraz-me dizer que nós estamos aqui juntos hoje", disse o presidente, referindo-se ao que chamou de solidariedade paulista.
Em relação a Covas, FHC afirmou que ele era "um grande governador" e que ele deixa o presidente da República "tranquilo".
O presidente disse ainda ter a certeza de que São Paulo vai estar à frente das transformações que ele está propondo fazer no Brasil.
Em outro momento de seu discurso, FHC disse que gostaria de agradecer a possibilidade de inaugurar aquele hospital em São Paulo, segundo ele, fruto de um trabalho organizado.
Nesse momento, ele pediu licença aos demais brasileiros e disse que essa organização "era uma marca de São Paulo" e que gostaria que ela marcasse também o Brasil.
"Isso aqui (o hospital) é um monumento à confiança, ao trabalho, à solidariedade, à disposição de luta e também à generosidade. Esse é o espírito que marca essa casa e que marca São Paulo", disse FHC.
FHC disse ontem ao governador Mário Covas que a ocorrência no Rio havia sido "um fato inteiramente menor" e que ele só percebeu sua existência ao final do evento em que estava.
O presidente está com a segurança reforçada após os incidentes ocorridos na sexta-feira entre manifestantes e polícia no centro do Rio.
Até ontem à tarde, FHC não havia sido hostilizado em São Paulo. Chegou a ser aplaudido por um grupo de funcionários da Beneficência Portuguesa e por alguns pedestres que identificaram o seu carro no comboio que, em vários momentos, tumultuou o trânsito.

Demissões
O presidente também foi aplaudido, durante o discurso feito no hospital, quando defendeu a política de demissões iniciada pelo governador paulista Mário Covas, afirmando que ele tem "a coragem de enfrentar os mais difíceis problemas".
"Não há problema mais difícil para um governante do que ser obrigado a despedir funcionários. Mas o dever do governador como o dever do presidente, em certos momentos, é fazer o que se impõe, para amanhã nós podermos atender efetivamente e bem a população de nosso Estado e de nosso país", disse FHC.
Mais tarde, depois de conversar por mais de uma hora com FHC no Palácio dos Bandeirantes, Mário Covas disse que entendeu a fala do presidente como um "gesto de solidariedade" à sua proposta. Segundo Covas, ele já demitiu 23 mil pessoas e vai ter de demitir mais.
FHC disse, ainda no discurso, que fará as reformas na Constituição "porque o Brasil clama por elas" e que este Brasil não é a elite, mas "o povo que votou em nós (disse olhando para Covas) e que está desejoso de que nós enfrentemos as dificuldades para avançar".

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