São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Leia o discurso na inauguração do hospital

Depois de haver percorrido, guiado por dois médicos ilustres, doutor Jatene e doutor Antonio Ermírio, que parece que sabia tanto de medicina que em certos momentos, mesmo o doutor Jatene calava para ouví-lo, depois de termos percorrido as instalações extraordinárias deste hospital, e sabedores que somos do que este hospital representa, um só dado, que aprendi agora: 600 operações de coração por mês. Nada paralelo —dizem que os brasileiros exageram muito— no mundo, porque não há.
Depois de termos visto, como disse o governador Mário Covas, que 60% do atendimento vem do Serviço Único de Saúde, o SUS, embora as receitas daí advindas não representem mais do que 30%, o que deixa, de maneira muito clara, inequívoca, demonstrada a função social deste hospital, só nos resta dizer que o governador Mário Covas foi muito feliz ao assinalar que, ao visitar este hospital, não eu, nós todos chamamos a atenção para aquilo que há de mais genuíno e que permitiu que os ensinamentos que vêm do Infante Dom Henrique, e que seguiram pelo mundo afora nos descobridores, frutificaram aqui.
E apraz ver que no Brasil, e em São Paulo em particular, as comunidades que deram origem ao nosso povo, à nossa nação, elas tiveram a sensibilidade de se organizar para prestar assistência ao povo. E os grandes hospitais paulistas são hospitais sustentados pelas comunidades originárias. Nós estamos no maior deles, que foi mantido, e é mantido, em grande medida, pelos portugueses e seus descendentes. Mas outras comunidades também fizeram a mesma coisa, o Sírio Libanês, o Einstein. Há pouco falávamos da necessidade do hospital que a comunidade italiana mantinha de ser recuperado.
Enfim, esse espírito, que é o espírito que junta a capacidade de inovar com a solidariedade humana, é fundamental. E este espírito é simbolizado hoje por este homem que é o Antonio Ermírio, que é uma pessoa que está a todo instante mostrando a disposição de colaborar, mostrando a sua imensa energia. Ainda, como ele mesmo disse, nós estávamos no Rio de Janeiro falando sobre educação. Esta lá o Antonio prestando o apoio dele, sempre prestante. Agora, aqui, na questão da saúde, mostra esse espírito pioneiro e solidário —pioneiro e solidário, isto é São Paulo, isto é o Brasil e disso nós somos herdeiros de Portugal. E como me dizia o governador Mário Covas, o presidente Mário Soares em nenhum momento importante (se omitiu) em demonstrar esta continuidade do espírito lusitano das terras brasileiras, em nenhum momento ele está ausente, está sempre presente da maneira mais competente, discreta e, sobretudo, amiga. Eu vejo e agradeço a presença do secretário das Comunidades de Portugal, mostrando que o primeiro-ministro Cavaco e Silva segue o mesmo espírito.
Isto é o nosso novo mundo, o mundo em que o desafio dos problemas sociais, os grandes problemas não podem mais ser enfrentados no isolamento dos gabinetes burocráticos, ou nós formamos de fato uma parceria com a sociedade ou nós não teremos como enfrentar os grandes desafios.
Eu tenho conversado com o ministro Jatene sobre as questões da saúde. Gostei muito de uma afirmação que ele fez recentemente, dizendo que o SUS não estava falido, tem dificuldades, como tudo que é grande neste país e que esses problemas são enormes. Mas atende 1 milhão e 200 mil consultas por mês, internações. Significa cerca de 100 milhões de procedimentos, são números que impressionam. Então, para dar conta de tudo isso, ou nós nos juntamos, ou nós vamos sempre choramingando a impossibilidade de fazê-lo, ou magnificando os pequenos e às vezes os grande defeitos, que não devem ser escondidos, mas não se pode substituir a realização pela choradeira pelo que não se fez, tem que fazer e não chorar. Denunciar é importante, mas tão importante é corrigir, e para corrigir nós precisamos estar juntos, nós precisamos efetivamente despertar a consciência do país, não só para os seus problemas, senão que também para as possibilidades de resolvê-los. E se hoje estou aqui, doutor Antonio Ermírio, doutor Paulo Maluf, governador Mário Covas, se estou aqui, na minha cidade de São Paulo, não é simplesmente porque é a minha cidade, mas é porque eu sinto esse espírito em São Paulo e apraz-me dizer que nós estamos aqui juntos hoje, o prefeito, o governador e o presidente da República, ministros, com o mesmo espírito, e nós temos um grande governador em São Paulo. Um governador que deixa o presidente da República tranquilo, com a certeza de que São Paulo vai estar à frente das transformações que nós estamos fazendo no Brasil, e que São Paulo terá a coragem, como tem o governador Mário Covas, de enfrentar os mais difíceis problemas, e não há problema mais difícil para um governante do que ser obrigado a despedir funcionários, mas é dever do governador, como o dever do Presidente em certos momentos é fazer o que se impõe para amanhã nós podermos atender efetivamente e bem a população do nosso Estado e do nosso país. E o governador de São Paulo com muita firmeza tem cumprido a sua obrigação e tem estimulado o presidente da República a enfrentar o que seja necessário para nós fazermos as reformas que o Brasil precisa. Nós vamos fazê-las, nós vamos fazê-las, porque o Brasil clama por elas e o Brasil não é a elite do Brasil, não, é o povo do Brasil, o povo que votou em nós e que em todas as pesquisas, ainda hoje em um dos jornais, em que suas manchetes, geralmente chamam muita atenção, leiam o conteúdo delas e vão verificar que o povo está desejoso de que nós enfrentemos as dificuldades para avançar.
Aqui é um exemplo disso, aqui a comunidade portuguesa enfrentou as dificuldades, aqui uma direção competente enfrentou as dificuldades e o doutor Antonio Ermírio disse algo que eu acho que é fundamental. Hoje é o dia dos funcionários. Hoje, ao percorrer esse hospital, ao ver as enfermeiras, os enfermeiros, os médicos, os servidores, via-se que é gente integrada numa tarefa comum. Esse é o espírito necessário, nós não vamos poder fazer nada de significativo se nós não contarmos com o apoio daqueles que estão participando dessa transformação. Funcionários públicos ou privados, trabalhadores, pacientes, famílias, formadores de opinião; ou nos ajustamos numa mesma direção ou será difícil dar passos, mas será fácil dar os passos. Isso aqui é um símbolo vivo de como os passos, quando são dados com firmeza, com consequência, frutificam.
Eu agradeço muito o fato de que nós hoje possamos inaugurar este hospital. Agradeço como brasileiro, como presidente dos brasileiros. Porque é o trabalho que dá certo. A única maneira de nós acertarmos é continuarmos trabalhando. isto aqui é um monumento à confiança, ao trabalho, à solidariedade, à disposição de luta e também à generosidade, também àquela crença de que não adianta fazer aquilo que interessa a cada um, por que é preciso fazer aquilo que interessa à coletividade. Esse é o espírito que marca esta casa. E este espírito que marca esta casa, esse espírito, se me permitem os demais brasileiros a dizer, que marca São Paulo, há de ser também o espírito que vai marcar todo o Brasil, até porque vem de uma boa inspiração, da inspiração portuguesa.
Eu me congratulo, eu agradeço muito. E eu fiquei realmente muito contente esta manhã de termos dado esse passo. E juntamente com o ministro da Saúde daremos outros. E daremos outros na área pública. E vamos pedir o apoio da área privada, e vamos pedir que os hospitais que fizeram a grandeza médica em São Paulo nos ajudem no apoio a ser dado ao setor mais desprovido da população, em parcerias novas entre o governo, em seus vários níveis, municipal, estadual e nacional, federal, possamos nos unir àqueles que já tenham o conhecimento, que têm a capacidade tecnológica instalada, para que nós possamos multiplicar os atendimentos e façamos uma espécie de (sistema de) hospitais irmanados, solidários, aqueles que atendem os mais pobres e que não tem os recursos tecnológicos avançados e os que os têm, de tal maneira que se possa fazer fluxo, trazendo dos setores menos abastados da população os pacientes que serão atendidos nos hospitais de maior capacitação tecnológica, e que eles possam dar uma assistência constante. E mesmo a administração, mesmo a gestão.
E nós, de nossa parte, buscaremos os recursos financeiros para incentivar as comunidades privadas que vivem neste país e especialmente neste Estado, para que nós, de uma forma inovadora de ampliar a possibilidade de atender à população, juntemos o público com o privado. Este é o desafio do doutor Jatene, esse é o nosso desafio. E o exemplo que nós viemos aqui recolher hoje só nos inspira.
Parabéns aos funcionários, parabéns aos que mantém esta instituição. E, ao apertar a mão do doutor Antonio Ermírio, eu sinto que aperto a mão de cada um daqueles que edificaram esta Casa. Muito obrigado.

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